Lula oferece a Trump a chance de fugir da mediocridade mundial

7 de outubro de 2025, 13:47

Trump nunca disse a Putin e Zelensky o que agora diz a Lula, apesar de ter sentimentos semelhantes em relação aos dois. Lula entra em outro departamento dos afetos do americano, porque lhe oferece novas pautas, novas brigas e a possibilidade dos desenlaces latinos imprevisíveis.

Trump quer Lula como seu novo rolo. Lula é mais artista do que os outros dois juntos. O brasileiro oferece a chance da novidade, o desafio de uma esperteza não só cerebral, mas intuitiva e poética, e a perspectiva de coisas surpreendentes.

Novos inimigos reanimam os cansados de guerra. Lula revitaliza Trump, que passa a desfrutar da inteligência única de Lula. Trump começou, com a primeira conversa, um duelo que pode até desencurvar seu corpo cansado.

Nenhuma ingenuidade alvissareira, movida pelo entusiasmo do primeiro telefonema, pode nos levar a pensar que Lula vai mudar Trump. Nada disso. Trump poderia ser um Biden se não fosse Trump.

O que Lula disse a Trump e o hipnotizou é que ele tem condições de enfrentá-lo. Tanto quanto Putin o enfrenta, como o mais fantástico estrategista do século 21. 

Mas Lula é o mais sedutor, o mais serelepe, o mais literário, o mais engraçado. Lula tira Trump da mesmice das outras guerras, das conversas medíocres com seus amigos e inimigos europeus e do bafo insuportável de Netanyahu.

Lula diz a Trump que atrações pessoais não vão se sobrepor às macroquestões econômicas, políticas e ideológicas e que ele respeita essa verdade.

Lula sabe que é impossível ver afetos repentinos falsos ou verdadeiros encobrindo gestos maiores que expressam todos os ódios em relação ao Brasil, às esquerdas e aos latinos. Trump sabe que Lula pensa assim e que vai para o jogo no que sobra de espaço de racionalidade. 

Trump poderá descansar um pouco a própria agressividade. Vai tirar dois ou três bodes da varanda. Cederá no detalhe para não perder o essencial, porque ele criou o jogo e as regras e determina quem avança e recua. Lula admite que é assim mesmo e que topa jogar, porque não há o que fazer.

Trump cede porque precisa afrouxar a corda, por pressão econômica interna, por calibragem de retórica e de blefes e porque não pode brigar com todo mundo o tempo todo. 

Trump vai pedir aos Bolsonaro que se acalmem um pouco. Eles terão que buscar forças em Valdemar Costa Neto e Ciro Nogueira. 

Trump precisa reacomodar seu tom de voz e se dedicar a Lula, enquanto enrola russos e ucranianos e finge querer parar a matança em Gaza. E que a família fique à espera de novos sinais mais adiante, se for preciso chamá-la de novo. 

Trump sabe que Lula defende um país e que Bolsonaro defende uma facção criminosa já condenada. Nem seus generais golpistas Bolsonaro defende. 

Trump continuará sendo o mesmo fascista perseguidor dos diferentes. Lula não vai humanizá-lo. Sabe que está num rolo. Que o esquemático Marco Rubio não estrague tudo.

  • Imagem gerada em IA a partir de foto do “negociador” do acordo Trump-Lula, pelo lado norte-americano, o senador e secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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