
O jovem que envelheceu para poder ocupar o trono sob controle do centrão
Arthur Lira nos fez sentir saudade de Rodrigo Maia, que ninguém sabe por onde anda. Hugo Motta poderá fazer com que muita gente sinta saudade de Arthur Lira.
O jovem paraibano do Republicanos tem pedigree e tem brasão e cacoetes dos coronéis nordestinos, mas teria idade para usá-los com a maturidade de Lira? Mesmo que tenha envelhecido precocemente para ser o que é.
Motta tem 35 anos. Está há 14 anos na política de Brasília como deputado federal. Com 35 anos, em qualquer tempo, no século 20 ou nesse século, um político aperta com segurança três ou quatro botões.
E a política é uma máquina com pelo menos uma dúzia de botões da engrenagem básica a ser dominada. Isso quer dizer que muitos irão apertar o botão por ele.
E que talvez por isso mesmo tenha sido eleito presidente da Câmara. Motta, o citador de Ulysses Guimarães, pode se transformar na figura mais manobrável do Congresso, em circunstâncias nunca enfrentadas antes nas tensões Legislativo-governo.
O que dá alguma esperança aos que esperam limites em seus anunciados desatinos (como fomentar e acolher o PL da anistia e defender o semipresidencialismo) é que muito cedo ele aprendeu quase tudo que sabe com Eduardo Cunha, seu guru e mentor.
Motta, todo mundo repete, foi da tropa de choque de Cunha. Mas seu padrinho acabou atirado num canto pelos próprios parceiros mais fiéis.
Na sessão em que Cunha foi cassado, por 450 votos a 10, em 13 de setembro de 2016, não apareceram na Câmara 42 parlamentares. Hugo Motta foi um deles.
A fidelidade a Cunha não foi suficiente para que comparecesse e votasse ao lado dos 10 deputados que rejeitaram a cassação. Motta tinha 27 anos.
Todos os perfis publicados sobre o moço destacam que ele tem conexões com a extrema direita e vínculos com o setor financeiro, o agronegócio e a bancada evangélica.
É uma base e tanto. Motta é daquelas figuras envelhecidas antes do tempo, pela capacidade de se comportar como se tivessem mais de 60 anos e assim serem aceitas pelo rebanho.
É um político precoce e talentoso, mas é mesmo um coronel em formação com virtudes e habilidades para fazer manobras com o que existe de pior na política e com as piores companhias.
Motta é da linhagem dos mini-homens, não pela estatura, mas pelo conjunto do que acabam sendo. São jovens que, pela fala, pelo glamour da empáfia, até pela vestimenta e pelo respeito às liturgias, levam adiante o desejo de serem velhos. Suas cabeças envelhecem com método.
ACM Neto foi, uns 20 anos atrás, um mini-homem clássico. Em algum momento, deixam de ter aparência de jovens, para assumir uma velhice antecipada, como recomendam os que os antecederam. São cópias de Dorian Gray ao contrário.
São envelhecidos pelos hábitos que incorporam. O centrão expandido, com aval das esquerdas, habilitou Motta a ser o líder das facções das emendas e das afrontas ao STF, sentado no trono que já foi de Lira. E no momento em que se torna mais imprevisível a guerra contra Lula.
Porque Motta pode ser tudo o que esperam que seja, se essa guerra exigir moderação ou radicalizações, dependendo das circunstâncias. Contra Lula e contra o Supremo.
Por ser mais manobrável, poderemos ter saudade de Arthur Lira. Mas não há mais o que fazer. Hugo Motta, o citador de Ulysses, chegou à presidência da Câmara e essa é a realidade.
O que só nos leva a lembrar que um dia Paes de Andrade, Inocêncio de Oliveira, Severino Cavalcanti, Eduardo Cunha e Arthur Lira também chegaram.