O menino de botas verdes

27 de outubro de 2025, 04:05

A foto trágica do menino catando lixo calçando botas verdes, na revista semanal que folheio, poderia ser de um editorial de moda sobre os looks “lixuosos”, misturando o lixo ao luxo, conforme os últimos lançamentos em Milão e Paris, com as roupas desfiadas, desmontadas, esfarrapadas, desajeitadas.

O menino catador de lixo virou tendência! Esse, o maior símbolo que enxergo do descaramento do capitalismo, fazendo, da miséria, consumo. Sim, o mundo ocidental capitalista desce a ladeira, numa escada rolante veloz, mesclando genocídio e autoritarismo.

Os jornalistas do nosso tempo temos tido a rara oportunidade, que não chamo sorte nem privilégio, mas circunstancia histórica, de acompanhar um genocídio em tempo real, ainda em curso, assim segue a limpeza étnica promovida por Israel e se estende a outros países da região. Bem como assistimos, no camarote das redes sociais, à queda da Democracia no país que mais a representa, os Estados Unidos.

Derrocada impulsionada pelo Capitalismo, ruindo e se debatendo, já há décadas, notadamente neste Terceiro Milênio. O Capitalismo se derrete, pelo mal que significa a à subsistência da Terra, assim como a corrosão dos valores e princípios da humanidade, o estímulo a desajustes e diferenças agudas na sociedade, infelicitando-a, causando insatisfação e ansiedade, agredindo todos os princípios de convivência, moralidade, integridade dos humanos e sua relação com a natureza, os outros seres e espécies da Terra, as fontes da vida, o ar, a água.

E o menino do lixo de botas verdes neo-influenciador da moda, sem sequer saber disso, representa o escárnio desse mundo mau, que vende farrapos de marca a peso de ouro, enquanto a miséria trendy assombra o Império dos louros de olhos azuis da América.

A classe média supremacista branca votou em Trump e agora lamenta os preços dos alimentos e do seguro de saúde, que não pode pagar. Votou em seu próprio algoz, destruidor da agricultura, a pecuária, os médios e pequenos empresários, com suas tarifas loucas, sua caça aos imigrantes, importante força de trabalho, visando apoiar e isentar apenas os bilionários da tecnologia.

É o funeral da Mamãe Grande, Loura, de Olhos Azuis. Nem Garcia Marquez previu isso.

  • Um manifestante anti-Trump segura um recorte representando o presidente dos EUA, Donald Trump, durante um comício organizado pelo grupo de campanha “Stop Trump Coalition”, protestando contra a visita de Trump, em Edimburgo, Escócia, Grã-Bretanha. Foto de arquivo: Lesley Martin/Reuters

Escrito por:

Formação acadêmica: Conservatório Nacional de Teatro 1967-1969, Rio de Janeiro
Jornalista, atriz e diretora do Instituto Zuzu Angel/Casa Zuzu Angel - Museu da Moda. Manteve colunas diárias e semanais, de conteúdos variados (sociedade, comportamento, cultura, política), nos jornais Zero Hora (Porto Alegre), O Globo, Última Hora e Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), onde também editou o Caderno H, semanal.
Programas de entrevistas nas TVs Educativa e Globo.
Programas nas rádios Carioca e Paradiso.
Colaborações e/ou colunas nas revistas Amiga, Cartaz, Vogue, Manchete, Status, entre outras publicações).
Atriz de Teatro, televisão e cinema, de 1965 a 1976
Curadoria de Exposições de Moda: Museu Nacional de Belas Artes, Museu Histórico Nacional, Itau Cultural, Paco Imperial, Casa Julieta de Serpa, Palacio do Itamaraty (Brasilia), Solar do sungai (Salvador).
Curadoria do I Salao do Leitor, Niterói

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