O núcleo crucial do dinheiro escapou

26 de agosto de 2025, 15:51

Silas Malafaia urra e esperneia como um fiel em processo de exorcismo, mas logo será contido e irá se acalmar. Braga Netto, preso desde dezembro, já nem pede mais para ir para casa.

Bolsonaro está com um pé na cadeia. Todos os parceiros de golpe, do chamado núcleo crucial, também já estão com as malas prontas, com chinelos e pijamas, para a vida no cárcere.

Os demais núcleos, que serão julgados na sequência, têm réus envolvidos na coordenação das forças militares, na disseminação de desinformação, nas ações táticas de contato com o alto comando do Exército e no monitoramento e neutralização de autoridades, que previa assassinatos.

A pergunta que incomoda e constrange, desde quando as investigações começaram a resultar em indiciamentos e denúncias, é essa: onde está o pessoal do dinheiro?

Temos os idealizadores do golpe, os planejadores, os disseminadores do plano e os executores da área operacional em todas as frentes. Temos os militares, os civis e agora o pastor do núcleo religioso de afronta às instituições. Mas não temos os grandes financiadores.

O Judiciário pegou o núcleo dos manés e terroristas que invadiram Brasília no 8 de janeiro, o primeiro grupo julgado e condenado. É o núcleo pobre e mais chinelão do golpe. Mas onde está o núcleo dos ricos?

Em que momento as investigações se perderam e deixaram à vontade os grandes empresários financiadores das estruturas do gabinete do ódio e de suas extensões nas milícias digitais?

Temos generais presos, o líder do golpe contido em casa, um orientador espiritual cercado e em transe, mas os milionários que ajudaram a produzir e disseminar mentiras e ódio e a articular o golpe, esses estão impunes.

Estão impunes, além dos que financiaram as estruturas do gabinete do ódio, os que pagaram pelos bloqueios de estradas, ou alguém acha mesmo que aquilo foi coisa de caminhoneiros autônomos?

Polícia Federal e Ministério Público não conseguiram reunir provas contra essa gente? Não contra os laranjas que pagavam banheiros químicos, lanches e bandeiras nos acampamentos. Mas contra os manezões do dinheiro grosso.

PF e MP fracassaram quando chegaram perto, se é que chegaram, de golpistas com muito dinheiro? O que falhou? Por que ninguém mais fala desses empresários?

O mais famoso deles, Luciano Hang, o autoproclamado véio da Havan, é investigado em dois inquéritos sobre o golpe e em outro sobre os crimes da pandemia.

E continua como se nada tivesse acontecido, inaugurando lojas, atuando como garoto propaganda da sua rede e até fazendo banquete com desembargadores de Santa Catarina, o que acionou mais uma investigação, dessa vez do Conselho Nacional de Justiça.

Há outros da turma dele em inquéritos intermináveis em Brasília. Mas nada se sabe do avanço das sindicâncias em torno desses poderosos. O sistema de Justiça amarelou? 

Não chegaram a evidências e provas dos crimes? Os milionários que estiveram ao lado de Bolsonaro até o fracasso do golpe vão escapar, enquanto Braga Netto e Malafaia podem pegar cadeia?

O silêncio dos investigadores nos oferece o consolo ou o engano de que algo virá mais adiante. Se não vier, os grandes financiadores do golpismo, que agiam desde muito antes do 8 de janeiro, serão os únicos inalcançáveis. 

O poder econômico vem conseguindo, para os ricaços, uma blindagem que a estrutura militar não garantiu a Braga Netto e a turma da Bíblia não assegurou a Malafaia.

  • Imagem gerada em IA

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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