O problema policial de Valdemar é um problemão para o PL e a extrema direita

23 de outubro de 2025, 13:12

Valdemar Costa Neto voltou a ser um caso de polícia. A situação é tão complicada que ele não mais poderá visitar Bolsonaro. Fez uma visita ao líder na segunda-feira e pretendia revisitá-lo dia 29.

Bolsonaro mandou chamá-lo ao ser informado de que Valdemar volta a ser investigado por conspirar contra o sistema eleitoral em 2022. Consultado, Alexandre de Moraes mandou avisar que não. Valdemar também volta a ficar incomunicável com Bolsonaro e outros réus ou condenados como golpistas.

O problema policial de Valdemar é tratado com candura pelos jornalões, mas é um problemão político para o PL e para toda a extrema direita. Porque Valdemar é a voz de Bolsonaro no leva e traz e o centralizador das articulações para expansão da base parlamentar do bolsonarismo.

Valdemar faz o que Ciro Nogueira e Gilberto Kassab vacilam se devem ou não fazer no PP e no PSD como extensões oportunistas da extrema direita. O dono do PL já decidiu que o seu partido deve ser bolsonarista assumido, e não mais uma direita gasosa, disforme e tarefeira.

Um partido que não só acolha o bolsonarismo, mas se comporte como bolsonarista legítimo. Valdemar decidiu que ele mesmo será não alguém terrivelmente bolsonarista, mas fiel ao que Bolsonaro representa.

Ele e todo o PL se dedicam à fidelização da base que esperam não só manter como expandir. Assim será porque o PL só conseguiu fazer 99 deputados em 2022, formando a maior bancada da Câmara, por ter virado o partido de Bolsonaro.

Valdemar deseja ser um líder do bolsonarismo sem Bolsonaro, não só no Congresso, mesmo sem ter mandato, mas por toda parte. O bolsonarismo com pé no chão será levado adiante por ele e pelo PL, e claro que não por Eduardo e seus irmãos.

Valdemar havia dito a Bolsonaro: deixa os problemas comigo. Mandou Eduardo se acalmar, para não estressar o pai, e prometeu fazer o que importa. Dedicar-se à conquista de votos para o Congresso.

Pois Alexandre de Moraes e a primeira turma decidiram contê-lo, a partir de uma conclusão elementar: se o dono do Instituto Voto Legal, Carlos Rocha, foi condenado por conspirar contra o sistema eleitoral, Valdemar deve ser investigado de novo.

Foi Valdemar que contratou Rocha, que produziu mentiras disseminadas por Valdemar e sua turma no PL em 2022. O próprio Rocha emitiu uma nota definindo-se como “o mordomo” condenado pelo crime, enquanto o mandante, Valdemar, fica impune.

Valdemar cai de novo nas mãos da Polícia Federal, que já o indiciou em 2024, mas não teve suporte da Procuradoria-Geral da República, que decidiu não denunciá-lo como golpista. Agora, a coisa se complica.

Será investigado no ano da eleição. Vai repetir, como disse em depoimento ao STF, como testemunha de Rocha. que não gostaria de ter propagado as mentiras do relatório contra as urnas, mas foi pressionado por deputados do PL?

Disse que não gostaria nem de ter entrado com a ação no TSE para questionar as urnas e o resultado da eleição. Mas foi forçado, o que resultou na multa de R$ 22,9 milhões por litigância de má fé.

Quem são os que o forçaram a disseminar mentiras e a recorrer ao TSE? Qual é a participação de Bolsonaro nessa pressão? Por que Bolsonaro o chamou de volta, para nova visita, logo depois de ter sido visitado?

O PL e o bolsonarismo não precisavam dessa investigação numa hora dessas. O inquérito desconcentra Valdemar, seu entorno e os quadros que devem ser mobilizados para 2026.

A nova investigação intranquiliza e aponta para uma certeza. Dessa vez, Valdemar não escapa. Se escapou na primeira, apesar do trabalho da Polícia Federal, não irá escapar agora, porque a PGR não poderá mandá-lo outra vez para uma gaveta, como fez em fevereiro.

Valdemar, o bom informante do colunismo de intrigas dos jornalões, o boca grande, o prestativo que avisou Bolsonaro que daria um para-te-quieto em Eduardo, esse cara volta a ser um problema. Fica ruim andar ao lado de Valdemar de novo.

Mas muita gente da pesada, que andou com ele e o mordomo Carlos Rocha, precisa visitá-lo. O problemão de Valdemar é de todos eles.

  • Presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Foto: /Adriano Machado/Reuters

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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