O que move Tarcísio, o queridinho dos “faria limers”

17 de julho de 2025, 16:50

O governador de São Paulo, Tarciso de Freitas que vive pedindo anistia para Bolsonaro, pode ter participado, no Palácio da Alvorada, da reunião em que o ex-presidente apresentou a minuta do golpe.

A suspeita foi levantada na quarta-feira (16) pelo advogado Jeffrey Chiquini, que defende o ex-assessor Felipe Martins. Durante uma sessão com o ministro Alexandre de Moraes, o advogado solicitou que fosse confirmada, com o colaborador Mauro Cid, a presença do governador na reunião golpista.Play Video

Ainda na quarta-feira, Tarcísio negou a suspeita e afirmou que quando a lista de entradas no Alvorada foi divulgada e nela constava o seu nome, partidos de esquerda pediram à Procuradoria-Geral da República que analisasse o caso. Mas, segundo o governador, nada teria sido confirmado nas imagens e o assunto teria morrido ali.

Tarcísio, no entanto, confirmou que esteve diversas vezes no Palácio para visitar o ex-presidente. Nos dois últimos meses do mandato de Bolsonaro, disse ter ido ao Alvorada nos dias 15 e 19 de novembro, e 10 de dezembro. A reunião da minuta golpista ocorreu em 7 de dezembro de 2022.

Ao ser lembrado por Alexandre de Moraes de que as dúvidas poderiam ser esclarecidas através da análise das imagens gravadas pela segurança do Palácio, o advogado Jeffrey Chiquini prontamente questionou:

“Quais imagens? Aquelas que desapareceram ou aquelas disponíveis de forma seletiva?”

Como determina o princípio jurídico “in dubio pro reo”, Tarcísio, até o momento, não pode ser acusado de ter participado da reunião golpista.

Mas isso não impede que se façam alguns questionamentos sobre o posicionamento do governador em relação à tentativa de golpe contra o Estado Democrático de Direito.

Tarcísio passou 16 anos no Exército, onde se formou engenheiro pela Academia Militar das Agulhas Negras. Ou seja, não era apenas um quadro técnico no ministério: assim como Bolsonaro, também era militar de formação.

Durante os quatro anos do governo Bolsonaro, o então ministro da Infraestrutura esteve sempre nos palanques ao lado do ex-presidente. Inclusive em 7 de setembro de 2021, quando Bolsonaro, aos gritos, afirmou que não mais cumpriria decisões do ministro Alexandre de Moraes. Será possível que o governador nunca tenha desconfiado que Bolsonaro planejava uma intervenção militar? Por que apenas Tarcísio não teria sido sondado sobre o plano de ruptura democrática?

Nas frequentes visitas ao Alvorada, em nenhum momento Bolsonaro falou de seus planos ao amigo?

Tarcísio achava normais e aceitáveis os acampamentos golpistas em frente aos quartéis, inclusive em São Paulo, estado que governa?

Qual papel estaria reservado a Tarcísio se o golpe tivesse sido concretizado?

Desde que se tornou governador, Tarcísio subiu em todos os palanques para defender o amigo golpista. Mais que isso, hospedou Bolsonaro várias vezes no Palácio dos Bandeirantes, inclusive na véspera do depoimento de Bolsonaro ao STF, mês passado. Qual teria sido a atuação de Tarciso na preparação de seu hóspede para responder às perguntas sobre a tentativa de golpe de estado?

Porque o chefe do Executivo paulista optou por uma reação rápida demais e desastrosa sobre a taxação anunciada por Donald Trump contra o Brasil?  

Não é preciso muita perspicácia para responder boa parte dessas questões. Tampouco é necessário esforço interpretativo para compreender que a lealdade de Tarcísio a Bolsonaro vai muito além da gratidão. Ela é ideológica. É política. E, sobretudo, uma maneira de deixar pouco claras suas relações com os golpistas.  

Quando um governador se omite diante de uma tentativa de golpe, sobe em palanques pedindo anistia para o golpista e silencia diante de agressões à soberania nacional, ele já fez sua escolha.

Imagem gerada em IA

Escrito por:

Jornalista com passagem pelas principais redações do país: Folha de São Paulo, JT, TV Globo, TV Manchete, TV Cultura, TV Gazeta, TV Brasil, TVE/RIO, Rede Minas, Rádio Eldorado, Rádio Tupi, Rádio Nova FM, Rádio Musical e colaborador do El País Brasil e Brasil 247

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