(Foto: Thomas Peter/Reuters)

O terceiro morticínio do Governo Bolsonaro

5 de fevereiro de 2023, 10:01

Carpas japonesas, os mais lindos dos peixes, vermelhos, dourados, sinuosos, ondulantes. Amigáveis, não receiam se aproximar dos que lhes jogam miolos de pães. São a alegria dos parques aquáticos, das praças com lagos, com margens sempre repletas de admiradores que apreciam ver a natureza evoluir na água, diante deles.

No Palácio da Alvorada havia carpas japonesas no espelho d’água. Um requinte, uma sofisticação. Elas são encontradas nos mais belos jardins do planeta, como no parque japonês do Jardin Botanique de Marseille, na França. Carpas douradas, enormes, exibindo-se vaidosas, abrindo as bocas gulosas, balançando as caudas, diante dos turistas embevecidos, eu entre eles, que as contemplavam. Nunca esqueci. 

No Rio Carioca, que teve seu curso desviado para ondular jardim abaixo, na Casa Roberto Marinho, no Cosme Velho, as carpas vermelhas descem lânguidas pela encosta margeada de pedras, e passam sob a ponte rosada de madeira, réplica daquela dos jardins de Monet. Bonito atrativo, que privilégio ter olhos pra ver e acompanhar aquele balé com escamas. 

No palácio residencial dos presidentes da Republica, em Brasília, carpas não há mais. Operou-se, por ordem de Madame “ex-first lady” o terceiro “genocidio” do Governo Bolsonaro: o extermínio, não de humanos, mas das carpas japonesas. 

Madame mandou esvaziar o laguinho para recolher as moedas jogadas n’água por visitantes supersticiosos, que faziam pedidos aos peixes. Foi o último saque, o saque de despedida da família Bolsonaro. 

Em lago sem água, peixes não sobrevivem. Mesmo que sejam peixes encantados, as carpas japonesas. Falta-lhes água, falta-lhes vida. Como faltaram os cilindros de oxigênio para salvar vidas humanas no Amazonas. 

Fico imaginando… Se as moedas fossem atiradas em gaiolas de aves majestosas, Madame também determinaria sua extinção, para caçar os níqueis depositados no fundo? Se fosse num canil, eliminariam os cachorros para resgatar uns trocados? 

Que gente feia, horrorosa. Feiúra de alma. Almas horrendas não suportam contemplar o milagre da vida, seja ele no reino animal, no vegetal, nos humanos em leitos do SUS, nas aldeias indígenas, nos quilombos ancestrais ou no alarido jovial dos pátios das universidades.

O ódio se enraivece, quando há esperança, beleza, amor, harmonia, futuro. Quer um mundo à sua semelhança, árido, sem cor, sem brisa, sem perfume. Um mundo com a visão e o odor da mortandade dos peixes.

Foram-se as carpas, ficou para a História o registro macabro.

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Escrito por:

Formação acadêmica: Conservatório Nacional de Teatro 1967-1969, Rio de Janeiro
Jornalista, atriz e diretora do Instituto Zuzu Angel/Casa Zuzu Angel - Museu da Moda. Manteve colunas diárias e semanais, de conteúdos variados (sociedade, comportamento, cultura, política), nos jornais Zero Hora (Porto Alegre), O Globo, Última Hora e Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), onde também editou o Caderno H, semanal.
Programas de entrevistas nas TVs Educativa e Globo.
Programas nas rádios Carioca e Paradiso.
Colaborações e/ou colunas nas revistas Amiga, Cartaz, Vogue, Manchete, Status, entre outras publicações).
Atriz de Teatro, televisão e cinema, de 1965 a 1976
Curadoria de Exposições de Moda: Museu Nacional de Belas Artes, Museu Histórico Nacional, Itau Cultural, Paco Imperial, Casa Julieta de Serpa, Palacio do Itamaraty (Brasilia), Solar do sungai (Salvador).
Curadoria do I Salao do Leitor, Niterói

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