
Obcecados contra Maduro, Marco Rubio e republicanos armaram, desde 2024, a vitória de María Corina no Nobel da Paz

O ardiloso anti-castrita, anti-boliviariano, esquerdofóbico, xenófobo e chauvinista secretário de Estado norte-ameriano Marco Rubio – o mesmo escolhido por Donald Trump para ser o negociador, do lado ianque, para dar sequência às negociações sobre o tarifaço brasileiro – foi o responsável por indicar – e depois tentar garantir, com forte pressão política – a venezuelana María Corina Machado para o Prêmio Nobel da Paz de 2025. Láurea pretendida, em propaganda aberta, por seu próprio chefe, Donald Trump – pelo menos no teatro político a céu aberto, o que já gera dúvidas -, a quem a oposidora do presidente Nicolás Maduro quer derrubar. A lógica de Rubio e sua rataria republicana é que a láurea trará de volta visibilidade à crise política da Venezuela – hoje restrita a um quase duelo pessoal – e deslegitimará o regime de Maduro, que no ano passado se impôs como vencedor das eleições, ficando para o mundo a narrativa de que manipulou as atas de votação. Algo como pensar que garantir, com o lobby dos estúdios de Hollywood, a vitória de um filme medíocre no Oscar, possa torná-lo um campeão de bilheteria.
A nomeação da candidatura de de María Corina foi formalizada em agosto de 2024, quando Rubio ainda era senador pela Flórida, em uma carta enviada ao Comitê Norueguês do Nobel e assinada também por outros parlamentares republicanos, incluindo os direitistas Rick Scott, senador, e os deputados Mario Díaz-Balart, María Elvira Salazar, Michael Waltz, Neal Dunn, Byron Donalds e Carlos Gimenez. Como confirma o NYT – leia.

No documento, Rubio, então senador, e antes de ser nomeado secretário de Estado – e seus colegas da bandada da Flórida, afirmaram que María Corina “representa a esperança e a resiliência de um povo que há 25 anos sofre com a opressão do regime de Nicolás Maduro”. Os parlamentares descreveram a política venezuelana como uma “figura de coragem e moralidade” e pedem ao comitê que reconheça “seu compromisso incansável com a restauração da democracia e dos direitos humanos na Venezuela”. Pelo visto, deu certo – a que preço não se sabe ainda.
O jornalista o jornalista Edward Wong compartilhou uma cópia da carta em sua conta no X – veja.

O Nobel sai no momento – nada, obviamente, é por acaso -, em que os EUA dão todos os sinais de um ato de guerra: deslocaram um massivo aparato militar – destróieres, submarinos nucleares e aviões de patrulha – para as proximidades das costas venezuelanas, o que já foi alertado ao Conselho de Segurança da ONU. Quem sabe, sonha Rubio e seus republicanos amestrados, com o fator Nobel à bela María Corina, golpista, recatada e do lar, o mundo não aceite, sem oposição, uma invasão norte-americana à Venezuela e a deposição de Maduro, para colocar alguém que – evitando um novo Fidel Castro, que fechou os prostíbulos e cassinos norte-americanos em Cuba e reassumiu o controle do país, com o movimento revolucionário de 26 de julho -, seja um Fulgêncio Batistana local – quem sabe a dona do Nobel – para fazer jorrar para os oleodutos norte-americanos as vastas reservas de petróleo do país, transformando a Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA) numa sucursal da ExxonMobil. A Rússia, porém, já avisou: nem pensar.
A justificativa do Comitê Norueguês para premiar a ativista política, sem qualquer vínculo, no seu estreito currículo, à questão da paz, já que, ao contrário, propaga a guerra e a derrubada de um governo eleito, simplesmente por não se enquadrar no ecossistema político norte-americano — “uma mulher que mantém a chama da democracia viva em meio à crescente escuridão” — traduziria, dentro dessa lógica, uma reprimenda a Maduro, há 12 anos no poder, em seu terceiro mandato consecutivo. “María Corina Machado sempre falou pelos direitos humanos, pelo povo venezuelano. Ela é o equilíbrio contra os tiros (do regime Maduro)”, afirmou o presidente do Comitê Norueguês do Nobel, Jorgen Watne Frydnes, viajando na maionese com carne de alce e rena, muito apreciados no país escandinavo.
María Corina – versão de saias do ex-líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó, hoje morando confortavelmente em seu “exílio” em Miami -, acusada pela Procuradoria-Geral da Venezuela por apoiar as sanções dos EUA contra a Venezuela – como faz Eduardo Bolsonaro, do Texas ou de Washington, unido com Paulo Figueiredo, filho do ditador, contra o governo Lula, defendendo, inclusive o tarifaço -, passou a viver escondida. A líder da oposição foi agraciada, no ano passado, com dois prêmios importantes de direitos humanos: o Sakharov —a mais alta distinção da União Europeia— e o Václav Havel, do Conselho da Europa. Como se vê, tá tudo dominado. Se entrar na Copa do Mundo de 2026, é gol.
Se for esse o critério, que tal premiar a oposição à Dinastia Kim, na coreia do Norte, desde 1948 no poder, à monarquia absolutista da Casa de Saud, na Arábia Saudita, que se reveza no poder desde a fundação do reino em 1932, há 93 anos, ou à Eritreia, no Chifre da África, onde Isaias Afwerki governa há mais de três décadas. A oposição que sobrevive vive exilada fora do país ou resiste de forma clandestina – mas ninguém fala de Nobel. Quem sabe a Human Rights Concern Eritrea, grupo de defesa dos direitos humanos focada nos abusos cometidos pelo governo africano, como torturas, desaparecimetos, restrição às liberdades civis e prisões arbitráras. Não marecia melhor chance que María Corina, bela, recatada e protegida por Rubio?

Em 2025 houve 338 candidatos ao Prêmio Nobel da Paz – sendo 244 pessoas físicas e 94 organizações. Os nomes dos indicados não são divulgados, justamente para evitar pressões e lobbies, mas sabe-se que entre os indicados estava Hind Rajab, uma menina palestina, de 5 anos, da Faixa de Gaza, que morreu em 29 de janeiro de 2024. Ela estava fugindo de uma área de Tel al-Hawa, em Gaza, com familiares em um carro, quando foi atingida por fogo de um tanque israelense.Também foi indicada, sabe-se hoje, a Hind Rajab Foundation (Fundação Hind Rajab), com sede em Bruxelas, criada após sua morte, e que busca responsabiliza ção legal de indivíduos e instituições por violações de direitos humanos na guerra em Gaza – nada mais atual, certo Trump e Rubio? -, usando instrumentos como a jurisdição universal. Também era “rival” da anti-chavista venezuelana a Campaign for Uyghurs e “Teacher Li” (Li Ying) — organização ativista que atua em favor dos direitos dos uigures, na China. Minoria étnica, de língua turcomena e maioria muçulmana sunita, os cerca de 12 milhões de uigures, que vivem na Região Autônoma Uigur de Xinjiang, no extremo noroeste da China, vêm, desde 2010, sofrendo violações de direitos humanos e genocídio cultural. Ganhou a candidata de Rubio e dos republicanos, que nem era cogitada por especialistas.
Pelo testamento de Alfred Nobel (1833-1896), o inventor do dinamite e criador do Prêmio Nobel da Paz, a láurea só pode ser entregue a uma pessoa ou organização que tenha contribuído de forma significativa para a fraternidade entre as nações, a abolição ou redução de exércitos permanentes, e a promoção de congressos de paz. Se nem Gandhi ganhou, após cinco indicações, o que você esperava?
- Imagem de Marco Rubio gerada em IA.