Trump autoriza CIA a iniciar o fim do mundo

16 de outubro de 2025, 08:21

  1. EMBORA IMPACTANTE, o anúncio de que Donald Trump autorizou a CIA a derrubar Nicolás Maduro não pode ser comprado pelo valor de face. Até aqui, o presidente venezuelano aumentou sua legitimidade interna, via iniciativas de defesa da soberania e da Pátria ultrajada, o que pode dificultar qualquer ação desestabilizadora. Mesmo que se planeje eliminar o comandante de Miraflores, como os EUA juntariam em seguida os cacos do poder? Com que setores internos poderiam contar para essa empreitada?

  2. EM 2002, DURANTE A GUERRA AO TERROR, apesar de forte subversão nas Forças Armadas, na Igreja, no empresariado, nos meios de comunicação e na classe média, o golpe contra Hugo Chávez naufragou. Maria Corina Machado teria agora condições de organizar a base social para um levante sincronizado com investidas armadas e sabotagens a partir do mar do Caribe? As big techs prosseguirão na diuturna campanha de desgaste e convencimento?

  3. QUAL O ARGUMENTO POLÍTICO capaz de sensibilizar multidões a apoiarem a ruptura institucional? Os países vizinhos – incluindo o Brasil, marcado pela covardia oficial – suportarão a transformação de suas fronteiras em praças de guerra? O que farão frente ao êxodo em massa de venezuelanos desesperados? Como se comportarão China – dona de parte do sistema elétrico do país e de milhões de barris de petróleo já pagos e ainda no subsolo – e Rússia – principal fornecedora de equipamento militar ao país?

  4. SE ANALOGIAS HISTÓRICAS servem para alguma coisa, vale lembrar que nem John Kennedy (em 1962, na baía dos Porcos) e nem George W. Bush (em 2002, na Venezuela) autorizaram participação oficial de seu país nas aventuras imperiais, apesar de tê-las secretamente financiado. Uma aberta investida militar sem razão clara pode gerar desgaste internacional pesado para Washington, como nos casos citados.

  5. NÃO BASTA À POTÊNCIA dominante ter armada, tropas terrestres e força aérea. Ela precisa exibir razões morais – como defesa da liberdade, da democracia, de Deus, da família etc. – para sustentar uma campanha desse tipo. Alegarão ao mundo que pretendem roubar petróleo e tudo bem? Vai colar?

  6. TRUMP NOVAMENTE SEQUESTRA a agenda global. Nesta semana humilhou Javier Milei, ao dizer que dinheiro novo só cruzará o rio da Prata se o fascista pop exibir vitória eleitoral, e atrai Lula para negociações ainda incertas. Está nas capas de todos os sites e canais, como queria.

  7. A GUERRA VIRÁ, MAS NÃO JÁ, deixa subentendido. Mais parece um balão de ensaio capaz de lhe dar segurança sobre o próximo passo. Se decidir atacar, terá de ser gesto fulminante, sangrento e exemplar, capaz de gerar cenas espetaculares nas redes. Não sairá barato. Pode entrar num atoleiro, como no Afeganistão ou no Vietnã.

  8. SOBREVIVERÁ POLITICAMENTE AO CAOS regional e ao desastre humanitário que se seguirá? Um armagedom caribenho pode atingir até mesmo os Estados Unidos, país marcado por abismos classistas e duvidosa coesão interna. Lembremos: o Império invadiu vezes sem conta os países da América Central. Esta seria a primeira vez que realizaria algo dessa magnitude na América do Sul. A imagem de um tiro saindo literalmente pela culatra só acontece em gibi. Mas no sentido desfigurado, pode ocorrer em situações para as quais não se meçam direito as consequências.

    – Imagem gerada em IA

Escrito por:

Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.

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