A direita não ganha nada com Bolsonaro

27 de fevereiro de 2023, 10:10

Bolsonaro aparece chorando num vídeo que ele mesmo compartilhou no Instagram no domingo.

É uma cena forte. O homem que nunca chorou por ninguém na pandemia, incapaz de se emocionar com dramas alheios em quatro anos de governo, esse sujeito chora por causa da sua aflição.

O cantor sertanejo Rick canta uma música em que a mensagem é positiva, para que ele não desista, porque Deus está ao seu lado.

Mas Bolsonaro chora muito e parece desistir. Um marqueteiro amador diria que aquela é a imagem de um derrotado na sua solidão de Orlando.

Fica evidente ali, na exposição de um drama pessoal de tristeza e fragilidade, que Bolsonaro não tem condições de voltar ao Brasil.

Não agora. Pode voltar daqui a alguns meses e anos, dependendo das circunstâncias. Mas no curto prazo não tem forças e nem saberia o que fazer aqui.

Direita e extrema direita estão sendo mantidas nas cordas por Lula. Todas as iniciativas do governo até agora, desde os decretos do desarmamento, acuaram o fascismo.

A caçada aos garimpeiros das terras dos yanomamis, a revelação dos gastos criminosos do cartão corporativo, a abertura de gavetas secretas, como a que escondia detalhes da absolvição de Eduardo Pazuello, e as denúncias quase diárias de desmandos que só agora aparecem – tudo isso mantém o bolsonarismo na defesa.

Nesse ambiente, Bolsonaro não teria o que fazer, se desembarcasse no Brasil nos próximos dias, com os manés presos ou desorientados e os manezões escondidos.

Com quem iria conversar, que missão iria assumir, que poder ele teria em meio ao bombardeio que vem sofrendo?

No Brasil, Bolsonaro seria um traste ou uma biruta desorientada, ou até um estorvo para o PL, porque a capacidade de articulação e liderança nunca foi o seu forte.

Por isso faz sentido a revelação de Joaquim de Carvalho, no Brasil 247, de que Bolsonaro pretende adiar a volta e pensa em pedir asilo nos Estados Unidos.

Mas que tipo de asilo, se ele não é perseguido político, mas um ex-presidente acusado de dezenas de crimes graves?

Ele dará um jeito ou simplesmente ficará por lá, com as concessões que permitem sua permanência.

Bolsonaro aposta que o tempo, e só o tempo, poderá favorecê-lo mais adiante. Se a conjuntura mundial for ruim para o Brasil, se a economia não deslanchar e se a direita voltar ao poder em 2024 nos Estados Unidos.

Ele vai preferir esperar, para não correr o risco de voltar e ser preso. Bolsonaro pode aceitar até que seja tornado inelegível, mas não pretende ser presidiário.

O que irá conseguir? A resposta não virá no curto prazo. Bolsonaro continua sendo um sapo em cozimento em banho-maria.

O choro documentado e compartilhado apenas agrava uma imagem de solidão e abandono.

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *