(Foto: Reuters/Adriano Machado)

Eles vão escapar de novo?

6 de abril de 2023, 10:20

Os balanços da semana indicam que restam menos de 300 presos em Brasília pelos atos terroristas de 8 de janeiro. As cadeias chegaram a ter mais de 1.400 homens e mulheres.

Já foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República 1.389 envolvidos direta ou indiretamente nas agressões ao Congresso, Planalto e Supremo.

São 239 manés e terroristas do núcleo dos executores, que invadiram os prédios e promoveram destruições. E 1.150 do núcleo de incitadores, presos no dia seguinte no acampamento em frente ao QG do Exército em Brasília.

É um balanço incômodo. Trata de novo das turmas que se expuseram ao risco de tentar o que alguns achavam que seria um golpe.

E essas turmas são na maioria da ralé do fascismo, mesmo que alguns executores e incitadores não sejam tão pequenos.

São violentos e devem responder pelos crimes. Mas numa hierarquia de quartel, já que receberam acolhida de parte do Exército, seriam no máximo cabos e sargentos, com um ou outro tenente.

Não há equivalentes a coronéis entre presos e indiciados nesses grupos. Muito menos generais. Estão enquadrados pela PGR os soldados civis do golpe, todos detidos em flagrante.

A missão da PGR não terminou. O subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos, coordenador do grupo de combate aos atos antidemocráticos na PGR, já anunciou a próxima etapa.

Chegou a hora de pegar os que escaparam do flagrante, porque não chegaram e nunca chegariam perto das barracas nos quartéis e dos prédios atacados.

A PGR dá prioridade agora às investigações sobre os financiadores das ações e dos acampamentos e sobre os agentes públicos que se envolveram ou se omitiram diante dos ataques.

É o que falta e não é pouco. Com a passagem do tempo, fica mais evidente que os presos e indiciados, mesmo que devam ser contidos, não têm relevância no esquema e na estrutura do golpe.

Nem os financiadores já identificados publicamente têm peso nas gangues formadas há muito tempo, desde a eleição de 2018.

Donos de biroscas, pastelarias, de meia dúzia de kombis de faz-se frete, churrascarias, funilarias e oficinas de consertos em geral não são os golpistas mais perigosos.

A PGR tem a missão de oferecer respostas a quem pergunta: e os manezões, os grandões, os empresários endinheirados que financiavam as milícias digitais e investiram depois nos bloqueios de estradas, nos acampamentos e nas caravanas que invadiram Brasília?

Os que estão presos por invasão e depredação podem pegar, nos casos mais graves, até 30 anos de cadeia. Os incitadores, que estavam no entorno, até quatro anos.

O sujeito que foi na frente e quebrou vidros, mesas e cadeiras, para comprovar seus atos aos mandantes, esse está condenado a ter problemas para o resto da vida.

O mané que ficou na cadeira de praia no acampamento, enrolado numa bandeira, talvez nem preso fique depois da condenação.

O resumo é esse: o chinelão, que nem sabia direito o que fazia, pode pagar pelas loucuras do 8 de janeiro.

E a dúvida continua sendo a mesma desde as primeiras prisões. Com o tempo passando e com a sensação de diluição da gravidade dos atos terroristas, quantos manezões com dinheiro serão identificados como criminosos pela PGR?

É perturbador pensar que esses militantes de ponta, impunes desde a formação do gabinete do ódio, que cortejaram Bolsonaro em atos públicos pelo golpe e sustentaram com dinheiro a estrutura terrorista, poderão escapar de novo.

A PGR, o Supremo, onde tramitam inquéritos desde abril de 2019, o TSE e todas as instituições que se envolvem com as investigações sabem que não há como deixar o trabalho pela metade, ou a democracia continuará em perigo.

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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