
Voz na escuridão, Ofer Cassif, parlamentar do Hadash, mostra que o problema não é o país, é o ódio estatal justificando o apartheid palestino
“O pior governo é o mais moral. Um governo composto de cínicos é frequentemente mais tolerante e humano. Mas quando os fanáticos tomam o poder, não há limite para a opressão”, escreveu, há mais de um século, o jornalista e crítico norte-americano Henry Louis Mencken. O tempo passa, a lusitana roda, mas ideias ficam. Se você, acha – na visão dicotômica prevalente – que em Israel só tem reaça pró-extemínio palestino, e que criticar o seu governo criminoso é antissemitismo – e essa é a grande maioria sim – alivie-se um pouco conhecendo alguém que faz jus ao ditado árabe “Não declares que as estrelas estão mortas só porque o céu está nublado”. A estrela a ser revelada no seu telescópio político, se ainda não o fez, é o cientista político, professor universitário e liderança israelense Ofer Cassif, crítico ferrenho do governo Netanyahu.
Essa é a ideia -, que mostra que Israel “é pau, é pedra, é o fim do caminho”, mas que não é um monolito ideológico e há “promessa de vida no teu coração”. E quando flores nascem entre as pedras, é porque ainda resta alguma esperança. O deputado Cassif, do Hadash, frente árabe-judaica de orientação socialista, e dirigente do Partido Comunista Israelense, é um resistente. Assista esse vídeo do ICL, em espanhol. Ele chegou a ser suspenso pelo Knesset, e até removido do parlamento, após tecer críticas às ações do governo, mas ele também representa os pontos de vista de uma facção não trivial, embora muitas vezes esquecida na política israelense, e independente do do que se pense sobre seu ponto de vista, ele é um representante bem informado e contundente dessas opiniões. Numa de suas críticas, disse na cara de Netanyahu que ele era responsável por bombardear crianças.

Também já tentaram seu impeachment após seu apoio ao processo da África do Sul contra Israel no Tribunal Internacional de Justiça em janeiro passado, quando acusou Israel de cometer genocídio contra os palestinos na guerra de Gaza. Sua lógica: o sionismo do governo de Benjamin Netanyahu sustenta uma ideologia racista e colonialista. Como mesmo nas ditaduras, há regras: 86 parlamentares votaram por bani-lo, com 11 votos contrários. Os demais estavam ausentes da votação, entre eles o líder da oposição Yair Lapid e os ministros da Unidade Nacional, Benny Gantz, e Gadi Eisenkot. Noventa dos 120 votos são necessários para expulsar um membro do Knesset.
Criado em uma família judia e sionista, Cassif contou que passou a questionar o sistema quando foi preso consecutivamente por recusar-se a servir nas Forças de Defesa Israelenses (IDF). Atualmente, ele avalia o sionismo como uma ideologia de Estado, “por definição, racista e colonialista” .Para ele, o sionismo não prejudica apenas palestinos, mas judeus no mundo todo e busca incutir a ideia de que se uma pessoa não é sionista, ela é antissemita, “É racista e colonialista porque, dadas as condições do século 19, queriam estabelecer um Estado judaico num momento em que a maioria dos judeus do mundo não viviam na Palestina e aqueles que viviam na Palestina não eram judeus. Então ao estabelecer um Estado em os judeus governam sobre pessoas que não são judias, é automaticamente algo antidemocrático”, discorreu ao Opera Mundi.
Enquanto Israel tiver Ofer Cassif, há esperança.
Com apuração própria e informações do Opera Mundi e ICL
Foto: Yonatan Sindel/Flash90