O ‘esquerdista’ Lula e os fascistas e extremistas

2 de janeiro de 2023, 22:48

Os dois discursos de Lula no Congresso e no Planalto tiveram forte pegada de esquerda, não só por destacarem a importância de um Estado protagonista e as prioridades à área social diante da pressão por contenção fiscal.

Os recados ao mercado indiferente à fome não significam nenhuma novidade.

Foram discursos de repulsa às atitudes e à herança do derrotado e seus significados.

As palavras fascismo, extremistas e extremismo autoritário apareceram nos dois discursos.

Fascismo e extremismo autoritário são ditas no discurso no Congresso. A palavra extremistas aparece no discurso no parlatório do Palácio do Planalto.

Analistas de direita também destacaram que, ao falar da falta de recursos para o SUS, Lula atacou de novo o teto de gastos, que Bolsonaro nunca obedeceu, mas que o mercado exige que Lula respeite.

A crítica de Lula vem desde a campanha, mas desta vez ele se referiu ao limite imposto para custeios e investimentos em áreas essenciais como “uma estupidez chamada teto de gastos, que haveremos de revogar”.

Também há queixas contra a afirmação de Lula de que Bolsonaro e todos os que cometeram crimes terão de se entender com a Justiça.

Cada um ouviu o discurso que desejava ouvir.

Míriam Leitão no Globo:
“Discurso de Lula ressalta democracia e inclusão e nega revanchismo”

Igor Gielow na Folha:
“Lula propõe união nacional e sugere caça às bruxas”

As bruxas seriam os fascistas, para os quais, segundo o que o povo gritava em jogral na Praça dos Três Poderes, não deve haver anistia.

O jornalismo do mercado sabe que o Lula ‘esquerdista’ da posse foi o mesmo esquerdista da diplomação. Todos os três discursos tiveram forte componente político.

A direita achou que deveriam ser menos incisivos como denúncia da destruição não só do Estado, mas das relações humanas nos quatro anos de governo.

Na diplomação, a palavra extremista aparece sete vezes. Mas não no discurso de Lula, mas do ministro Alexandre de Moraes.

O fascista não gosta de ser chamado de fascista ou de extremista. Mas não há o que fazer com o ‘esquerdismo’ de Moraes.

O esquerdismo de Lula, apontado pela direita que fala em nome do mercado, deve ser grafado entre aspas, assim como o esquerdismo do ministro do STF.

O fascismo deles, não.

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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