O governo e seus aliados evangelicamente terríveis: sepulcros caiados

8 de abril de 2021, 22:02

O que o bolsonarismo fez com o Brasil? Essa pergunta surge, fatalmente, centenas de vezes por dia. A cada pronunciamento do “presidente” (com inúmeras aspas) da República, insanamente aplaudido por hordas de amalucados que o louvam e o chamam de mito. A cada triste recorde de mortes na pandemia de Covid-19, um genocídio para o qual não há outro nome mais apropriado.

Dá pra entender a dimensão da coisa ao ver o nível de destruição da Natureza, num setor espezinhado sob o comando de criminosos ambientais. Ao nos vermos isolado do mundo, párias que hoje somos pela falta de respeito que ganhamos de quase todo o planeta. Ou ainda diante da tentativa escancarada de destruição da cultura e do pensamento, “perigos” para o autoritarismo e para as ditaduras.

Responde à pergunta a contaminação da Justiça brasileira, com o crescimento da presença dos religiosos em postos onde o Estado mais precisaria ser laico. Ainda não chegamos lá, mas corremos o risco de vermos se ampliar a praga de gafanhotos que é o sabujismo vergonhoso e incondicional. Hoje, com apenas um ministro terrivelmente evangélico colocado no Supremo Tribunal Federal por um literal messias, já deu para se ver o que poderá acontecer em um futuro breve.

Outros desse mesmo tipo virão. Se nada acontecer em prol do bom senso, da razão e da frágil democracia brasileira. Um dia podem ser um grupo. A qualquer hora poderão conquistar maioria para aprovar até mesmo barbaridades maiores que a já absurda abertura de templos religiosos alçados à condição de atividades essenciais em tempos de pandemia.

Talvez nem precisem que todos sejam evangelicamente terríveis para alcançarem o nirvana da irresponsabilidade e da vergonha. Acólitos sempre existirão para dar votos inexplicáveis e inconsequentes em favor do opróbio e do genocídio. Foi assim o voto não evangélico, mas igualmente terrível, o 2 do placar do time perdedor na goleada histórica e desmoralizante.

Na seção dessa quinta-feira (8), o STF evitou a chance de ouro de sermos ainda mais desacreditados e enxovalhados pelo mundo. Iríamos, acredite-se, ceder a um exército liderado por meia dúzia de pastores apavorados, menos com a vida dos seus fieis do que com a queda dos seus negócios. Um grupo que alimenta uma forte base de apoio para o governo e, ao mesmo tempo, se alimenta dele e das benesses que, por reciprocidade, recebe e louva. Farisaísmo bíblico. Dos dois lados. Por fora, aparência que engana; por dentro sepulcros caiados, “cheios de ossos de mortos e toda espécie de imundície” (Mateus 23:27).

Não à toa, o governo mandou o Advogado-geral, que até um dia desses era ministro da Justiça, se expor ao ridículo com suas alegações inacreditáveis em favor da insanidade e da ilógica. Elementos que são pilares do governo ao qual ele serve.

Liberar o funcionamento de igrejas em meio à pandemia, nem na Idade Média, rebateu o ministro Alexandre Moraes. Mas tentou-se. Seria trágico e nada tem de cômico. Não foi dessa vez, mas o sinal de alerta foi ligado, pela ousadia da intenção.

Escrito por:

Jornalista e compositor, com passagem por veículos como o Jornal do Commercio (PE) e as sucursais de O Globo, Jornal do Brasil e Abril/Veja. Teve colunas no JC, onde foi editor de Política e Informática, além de Gerente Executivo do portal do Sistema JC. Foi comentarista político da TV Globo NE e correspondente da Rádio suíça Internacional no Recife. Pelo JC, ganhou 3 Prêmios Esso. Como publicitário e assessor, atuou em diversas campanhas políticas, desde 1982. Foi secretário municipal de Comunicação. Como escritor tem dois livros publicados: "Bodas de Frevo", com a trajetória do grupo musical Quinteto Violado; e "Onde Está Meu Filho?", em coautoria, com a saga da família de Fernando Santa Cruz, preso e desaparecido político desde 1973. Como compositor tem dois CDs autorais e possui gravações em outros 27 CDs, além de um acervo de mais de 360 canções com mais de 40 músicos parceiros.

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