O que fazer com Bolsonaro

22 de junho de 2025, 13:51

O que é menos arriscado, sob o ponto de vista do sistema de Justiça e dos humores da política? 1. Condenar Bolsonaro e prendê-lo logo, mas com o risco de ter que soltá-lo mais adiante, e talvez no ano da eleição? 2. Condená-lo e deixá-lo já em prisão domiciliar, para não ter que fazer a concessão de libertá-lo depois, sob a alegação de que tem problemas de saúde?

A primeira hipótese, tanto para Ministério Público e Judiciário, e principalmente para Alexandre de Moraes, parece ser a mais óbvia e, pelos possíveis efeitos, também a mais alarmista. 

Prender Bolsonaro, sem a concessão imediata de uma clemência parcial, significa oferecer o que já é esperado: condenação e cadeia. Mas se sabe que muitos torcerão para que ele morra preso.

Pelo histórico, pelos últimos acontecimentos e porque sua situação pode se agravar no cárcere, Bolsonaro apresenta-se como o projeto de mártir que a extrema direita deseja. O próprio já expressou que se vê morrendo preso, como se estivesse escolhendo o melhor final para a sua história.

Eduardo também já levantou a hipótese de que o pai pode estar perto da morte. E que a guerra por seu espólio será a mesma que envolve traficantes desorientados pela perda do chefão da boca.

A segunda hipótese, a que deixa Bolsonaro em casa, empurrará o Supremo para a confusão de uma comparação inevitável. O lavajatismo condenou Lula e o deixou 580 dias encarcerado, sob o olhar complacente do Supremo. Mas o STF poderia vacilar na hora de prender Bolsonaro?

A circulação de hipóteses pela grande imprensa, com chutes variados sobre o que pode acontecer, leva em conta até presumidos recados de parte da esquerda, segundo os quais é melhor deixar Bolsonaro em prisão domiciliar.

Os danos seriam menores. Primeiro, porque sua libertação, em poucos meses, ou até dias depois da prisão, provocaria uma sensação de vitória para o fascismo e iria reabilitar o próprio Bolsonaro como voz forte, mesmo que com as muitas restrições da Justiça.

E segundo porque, além do risco de morte na cadeia, não se sabe se a reações ao chefe do golpe preso não seriam maiores do que as registradas quando Lula ficou na cela da Polícia Federal em Curitiba.

O Datafolha, especializado em pesquisas inúteis ou que só têm a utilidade de fustigar Lula, poderia sair a perguntar: Bolsonaro deve ficar preso na Papuda ou em algum quartel do Rio ou de Brasília, ou desfrutar de prisão domiciliar?

Lula foi preso com 72 anos e saiu da cadeia com 74. Bolsonaro tem hoje 70 anos. Lula deixou a prisão, reagrupou as esquerdas e parte do centro e se elegeu presidente pela terceira vez. Pelas previsões de Eduardo, o pai solto talvez não consiga reagrupar nem a família.

Foto: Bolsonaro, em transe, durante coletiva após prestar depoimento à Polícia Federal em Brasília. Foto: Adriano Machado/Reuters

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.