O presidente na praia, aglomeração e irresponsabilidade. Cena corriqueira
O presidente na praia, aglomeração e irresponsabilidade. Cena corriqueira

O presidente da República começa o ano pior. Como se fosse possível

1 de janeiro de 2021, 22:32

O Brasil, definitivamente, não tem um presidente da República. Tem, sim, uma figura que ainda precisa se explicar a que veio, porque trata o povo que diz governar de forma tão absurda, que prefere armar a população a investir no combate a uma pandemia como a da Covid-19. Um presidente que agride gratuitamente quem não pensa feito ele, que deixa a corrupção campear a partir da sua própria casa, que destroça toda a qualquer possibilidade de nos protegermos contra essa mesma pandemia, ao eliminar o uso da máscara como instrumento número um de prevenção, ao promover aglomerações e ao declarar guerra contra Estados quando devia aglutiná-los em torno de soluções para a doença. Na presidência da República, o Brasil tem um mal.

O Brasil, ao contrário de ter um chefe da Nação tem uma pandemia ambulante, tão nociva quanto a provocada pelo Coronavirus. Tem um gestor parvo que dissemina o ódio entre e espalha fakenews – afinal, foi eleito com base em um conjunto delas. Que tem a boçalidade de, nesta sexta-feira (01), numa praia lotada, reger um coro bizarro de apoiadores (é o nome que, inadequadamente, se dá a uma legião de celerados, tão ignorantes e potencialmente criminosos quanto o ídolo deles). A cena da massa bolsonarista mandando João Dória ir “tomar do …” é a cara da facção criminosa do Brasil que chegou lá, no poder.

No primeiro dia do ano, o presidente da República ainda aprontaria mais. Ao sancionar, com vetos, a Lei de Diretrizes Orçamentárias, o ocupante do Planalto vetou o artigo que proibia o bloqueio de recursos para o combate à pandemia. Parece mentira, mas é uma verdade aterradora e um gesto pusilânime. Isto, na semana em que o País contabiliza os 200 mil mortos pela Covid-19, uma tragédia sanitária que assola o mundo e tem sua pior tradução no Brasil por causa da forma errática e leviana com que o governo federal tem tratado a questão.

Ao mesmo tempo, o senhor do ódio que ora governa (?) o País deixa intocável o orçamento para a área militar. As Forças Armadas, diretamente beneficiadas com tão estúpida inversão de prioridades, deveriam vir a público se posicionar e exigir uma correção de rumos por parte de um governo completamente sem rumo. Vale lembrar que um dos últimos atos do presidente da República em 2020 foi a compra pelo Comando da Aeronáutica, sem licitação, de um satélite de R$ 140 milhões. Satélite que o Inpe já classificou de inadequado. O jornalista Xico Sá já botou o dedo na ferida e levantou suspeitas sobre a transação, tenebrosa e sem fundamentação. Mais uma escapulida de um governo perito em agir ao sabor do vento, mesmo que tenha que voltar atrás depois que flagrado com a mão na massa.

O rosário de desmandos do presidente da República entrou 2021 com força e com gás. Começou o ano provando que nada é tão ruim que não possa piorar. Muita coisa deve ainda aparecer num momento em que tudo o que o brasileiro quer é se vacinar e se livrar da pandemia. Claro que não falamos do presidente e seus seguidores. Para esses, continua valendo desprezar a ciência e o bom senso, ferir a lógica e abrir espaço para a morte.

Tem saída. E está nas mãos da Câmara dos Deputados que cochila sobre 60 pedidos de impeachment do presidente. A maioria muito mais fundamentada do que o impeachment que o próprio Congresso aprovou quando quis tirar do governo uma presidenta acusada de um crime de responsabilidade fajuto e posteriormente inocentada pela Justiça. Quem sabe o Ano Novo não traz ao Legislativo a coragem necessária para entender que entrar 2021 já foi muito, mas muito além do suportável, em se tratamento do atual governo.

Escrito por:

Jornalista e compositor, com passagem por veículos como o Jornal do Commercio (PE) e as sucursais de O Globo, Jornal do Brasil e Abril/Veja. Teve colunas no JC, onde foi editor de Política e Informática, além de Gerente Executivo do portal do Sistema JC. Foi comentarista político da TV Globo NE e correspondente da Rádio suíça Internacional no Recife. Pelo JC, ganhou 3 Prêmios Esso. Como publicitário e assessor, atuou em diversas campanhas políticas, desde 1982. Foi secretário municipal de Comunicação. Como escritor tem dois livros publicados: "Bodas de Frevo", com a trajetória do grupo musical Quinteto Violado; e "Onde Está Meu Filho?", em coautoria, com a saga da família de Fernando Santa Cruz, preso e desaparecido político desde 1973. Como compositor tem dois CDs autorais e possui gravações em outros 27 CDs, além de um acervo de mais de 360 canções com mais de 40 músicos parceiros.

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