
Uma caixa de sapatos pode salvar Chico Buarque
Circula a informação, que ainda depende de confirmação, de que Chico Buarque finalmente achou o papel com a prova da autoria de Roda Viva.
Vou contar o que sei e que não é muito. O papel estava na casa de Marieta Severo, de quem ele se separou há muito tempo.
O documento terá de ser encaminhado à juíza que pediu a prova da autoria. Tem até carimbo de um cartório de São Cristóvão com a expressão “o referido é verdade e dou fé”.
O papel amarelado, com a caligrafia de Chico, com um canto comido pelas traças, foi encontrado numa caixa de sapatos da marca Ramarim.
Marieta também achou na caixa a foto do casal voltando do exílio na Itália, em 1970, nas asas da Varig. Mulheres encontram o que os homens nunca vão achar.
Foi na Itália, na ditadura, que Chico fez os primeiros esboços de Cálice e Apesar de Você.
Marieta achou até um trevo de quatro folhas dentro do livro ‘Tortura nunca mais’.
Mas não foram achados na caixa indícios de prova da autoria dessas duas composições.
Os esboços devem ter ficado em Roma. Mas depois de tanto tempo, quem em Roma vai se lembrar de Chico Buarque? Quem ainda guarda caixas de sapatos em Roma?
(Sim, esse texto é o que chamavam de distopia. Como hoje em dia quase tudo tem de ser explicado, lamento pela maioria, mas aí está a explicação. Uma distopia produzida, na origem, por uma decisão da Justiça mais absurda do que o fato imaginado nesse texto.)