(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Ao teclado, comandantes! Vocês que são tão bons no Twitter

14 de julho de 2022, 13:54

Com muito atraso, mas em boa hora, a mídia tradicional agora se levanta para gritar contra o estrago feito. Trouxe Bolsonaro e os seus generais para o centro da cena política, respaldando a sua eleição, apresentada como uma escolha difícil ao sinalizar que Fernando Haddad não era uma boa opção, quando o que restava nas urnas era o nome de um capitão expulso das fileiras do Exército por terrorismo. 

Bolsonaro foi reabilitado pelo generalato para conduzir o país com um discurso radical, (falta de) ideias conhecidas e fascistas e uma plataforma que não foi apresentada ao eleitorado, exceto suas sandices: dizer que mataria a “petralhada” e iria armar a população, para que se defendesse de uma violência cujo combate é dever do estado, e não dos cidadãos.

De resto, podemos debitar na conta do (semi) presidente Michel, ter arrombado a porta do desassossego e trazido para o ministério da Defesa um militar, coisa que não acontecia desde a promulgação da Constituição de 1988, onde não está escrito que o cargo deve ser ocupado por um civil, embora o acordo tácito para a pacificação do país, desde então, foi manter os fardados longe do posto, numa simbologia salutar. Foi Michel, em gratidão à conspirata para botá-lo no poder, quem inventou o perigo. E, desde então, as “Forças” saíram do armário para desfilar com descontração, novamente, pelos salões do poder.

Já foi ousadia demais abrir a porta das casernas e guindar ao poder tantos generais, em um país traumatizado por uma ditadura que torturou, matou e desapareceu em dependências dos quartéis, com um contingente de 434 brasileiros que lutavam por liberdade. 

Erraram os analistas e colunistas de plantão, que a cada crise política perguntavam em suas páginas: “o que será que estão pensando os militares?”. Um erro. Os militares não estão na vida do país para elaborar doutrinas ou teses. Têm função definida na Constituição e lá está dito que devem servir à Pátria na defesa da sociedade e ponto. Qualquer outra função é invencionice.

Não se trata de um poder paralelo. Não são formuladores de políticas públicas – vide o desastra da pandemia – e tampouco podem se imiscuir em eleições. Mas, desde que lhes deram asas (na CTE), além de demonstrar sua ignorância em praça pública sobre o tema – o general ministro insiste em dizer que as urnas estão ligadas à internet -, que se arvoraram, por orientação de um presidente transtornado pela iminência da derrota, ao papel de “fiscais” do pleito.

Ouve-se, aqui e ali, que não existe dentro das Forças Armadas unanimidade sobre o tema. Diz-se até que os comandos não estão satisfeitos com isto. Então, camaradas, se este é o quadro, que venham à praça pública e digam isso em alto e bom som. A sociedade não pode viver à base de Rivotril até outubro, esperando a qualquer momento um sobressalto.

Já basta ver a Constituição em frangalhos, aviltada a cada rodada de “medidas do relator”. Chega vermos levadas aos nacos as estatais que segundo o ministro(?) Paulo Guedes, tiveram lucros extraordinários. E já foi mais do que suficiente assistirmos ao presidente da Câmara falar cinicamente em “socorro aos pobres”, para os quais deram as costas durante quatro anos, e agora querem fisgar na urna com medidas apenas eleitoreiras. Foi o bastante ver Arthur Lira atropelar o regulamento interno da Casa, tendo levado milhões do orçamento ilegal para se reeleger e aos seus, em seu estado. 

O mínimo que se espera desses senhores “insatisfeitos” com os arroubos de Bolsonaro e do seu ministro da Defesa, é que emitam uma nota conjunta – eles adoram uma nota conjunta! – onde digam claramente que o seu papel no pleito de outubro é garantir a tranquilidade da votação e fazer chegar as urnas ao Brasil profundo, mas com direito a voz como todo o resto. Ao teclado, comandantes! Vocês que são tão bons no Twitter, devem ao país o seu posicionamento. De que lado estão? Da Lei e da ordem, ou da baderna de um Capitólio “patropi”? 

 Apoie a iniciativa do Jornalistas pela Democracia no Catarse

Escrito por:

Jornalista. Passou pelos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora-pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" e "Imaculada", membro do Jornalistas pela Democracia

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *