Faixa de Gaza (Foto: REUTERS/Shadi Tabatibi)

Aos palestinos só resta a voz

28 de outubro de 2023, 13:22

Nada mais pungente e devastador do que essa imagem e essa súplica, feita por megafone na torre da Mesquita, na escuridão de uma cidade sem eletricidade, sem água, sem remédios, sem defesa, sem proteção, anunciando aos seus infelizes habitantes, que ainda restam vivos, que a comunicação com o mundo foi cortada, que agora só lhes sobra, única e exclusivamente, a proteção de Deus, de seu Deus, Alah, e faz a súplica aos que ainda vivem que se reúnam para juntos orar, implorando ao seu Deus que os guardem, que os salvem, que os socorram. Pior do que as milhares de imagens que circulam de braços e pernas de crianças resgatados sob os destroços dos bombardeios, das quais sabemos os nomes pois estão escritos a caneta na pele dos trucidados, pior do que ver cabeças de bebês explodidas como lagoas de sangue, pior do que ver meninos abraçados aos cadáveres de suas mães chorando compulsivamente, pior do que todas as visões de horrores inconcebíveis, das covas coletivas cobertas com a areia daquele deserto pelas pás dos tratores, imagens coloridas que só nos evocam as terríveis fotos em preto e branco daquele outro holocausto, o do nazismo, que marcaram a ferro quente, e para sempre, nossas consciências, a consciência das gerações posteriores à Segunda Guerra Mundial, e agora vemos se repetir o mesmo desprezo pela vida humana, a mesma frieza, os mesmos rituais macabros, e em poucas horas, após o ataque por terra desta madrugada, leio que já foram exterminadas mais três mil crianças e mais duas mil mulheres e o que lhes resta como defesa agora é somente a voz, esse grito na torre da Mesquita, na escuridão. Sobraram a voz, o grito, o choro. Segue aqui minha indignação sem revisão sem vírgula sem ponto e vírgula sem fazer parágrafo. O desespero não tem pontuação. Ah, dor!

Escrito por:

Formação acadêmica: Conservatório Nacional de Teatro 1967-1969, Rio de Janeiro
Jornalista, atriz e diretora do Instituto Zuzu Angel/Casa Zuzu Angel - Museu da Moda. Manteve colunas diárias e semanais, de conteúdos variados (sociedade, comportamento, cultura, política), nos jornais Zero Hora (Porto Alegre), O Globo, Última Hora e Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), onde também editou o Caderno H, semanal.
Programas de entrevistas nas TVs Educativa e Globo.
Programas nas rádios Carioca e Paradiso.
Colaborações e/ou colunas nas revistas Amiga, Cartaz, Vogue, Manchete, Status, entre outras publicações).
Atriz de Teatro, televisão e cinema, de 1965 a 1976
Curadoria de Exposições de Moda: Museu Nacional de Belas Artes, Museu Histórico Nacional, Itau Cultural, Paco Imperial, Casa Julieta de Serpa, Palacio do Itamaraty (Brasilia), Solar do sungai (Salvador).
Curadoria do I Salao do Leitor, Niterói

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