(Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Damares é um perigo ambulante. Será um mal para o Congresso

12 de outubro de 2022, 10:13

O bolsonarismo, essa chaga que ocupa o poder no Brasil desde janeiro de 2019, tem o dom de nos brindar com taças cheias da ignorância, pratos fartos e indigestos de ódio e de preconceito, com uma seleta infame dos piores quadros que já surgiram na burocracia e na política nacionais. Mas, convenhamos, no extremo oposto da beleza e do charme da incrível Gilda de Rita Hayworth, nunca houve uma mulher como Damares. 

É que nunca na história desse país, a política fez brotar no serviço público um ser tão bizarro quanto essa criatura, hoje eleita senadora pelo Distrito Federal com inexplicáveis 714.562 votos a ela conferidos pelos brasilienses da horda bolsonarista. Damares Alves é um ser que precisará ser estudado no porvir. No momento ela precisa apenas ser parada em sua sanha de transformar a fé em mentira, a religião em fanatismo, a chantagem em ferramenta, a maldade em doutrina.

A última peça desse rosário de mentiras proferidas por quem ocupou, tão inadequadamente, o cargo de ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos é, com certeza, a mais abjeta. Até agora, a criatura, na execrável função de agradar ao seu criador e mito, vinha apenas sendo patética. Seus delírios, como aquele em que conversa com Jesus Cristo em cima de uma goiabeira, serviam até para divertir o ouvinte, a depender de sua paciência. Agora, ela passou dos limites. 

Ao inventar uma história macabra sobre crianças traficadas na região Norte do país e usadas, segundo ela para praticar sexo oral e sexo anal, a ex-ministra foi além de uma simples mentira. Se todas as barbaridades por ela narradas forem reais, Damares cometeu crime de prevaricação, quando uma autoridade tem conhecimento de um crime e não apura devidamente. Afinal, em sua gestão, nenhum inquérito foi aberto para investigar tal escândalo. 

A “revelação” de Damares Alves ocorreu no último dia 8, na Assembleia de Deus Ministério Fama, de Goiânia, na presença da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Damares, em sua fala, ainda comprometeu o próprio presidente da República que, segundo ela, teria ordenado ações de resgates de crianças, vítimas de tráfico sexual para o exterior, através da Ilha do Marajó, Pará . Pelas palavras de Damares, Bolsonaro, por receber a denúncia e nada fazer ao saber do “crime”, se enquadraria no mesmo crime de prevaricação. 

Até ontem à noite, o site Change.org já havia recolhido mais de 178 mil assinaturas pedindo a cassação do registro de Damares Alves, caminhando ligeiro para as 200 mil assinaturas. Bolsonaristas, ao mesmo tempo, já ocupam as redes sociais sacando do colete o argumento risível de que, senadora eleita, Damares já teria direito a foro privilegiado. O que trata de uma insanidade. 

Do ponto de vista policial, a Polícia Federal já constatou que a bolsonarista mentiu de forma cruel e deslavada. O que falta para que se inicie em desfavor dela o inquérito pertinente? Por muito menos que isto, ela já mereceria perder preventivamente o mandado que ainda nem assumiu. É um perigo imensurável para a saúde política do Congresso Nacional. Um risco para a Democracia brasileira que o bolsonarismo busca, a todo custo, exterminar.

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Escrito por:

Jornalista e compositor, com passagem por veículos como o Jornal do Commercio (PE) e as sucursais de O Globo, Jornal do Brasil e Abril/Veja. Teve colunas no JC, onde foi editor de Política e Informática, além de Gerente Executivo do portal do Sistema JC. Foi comentarista político da TV Globo NE e correspondente da Rádio suíça Internacional no Recife. Pelo JC, ganhou 3 Prêmios Esso. Como publicitário e assessor, atuou em diversas campanhas políticas, desde 1982. Foi secretário municipal de Comunicação. Como escritor tem dois livros publicados: "Bodas de Frevo", com a trajetória do grupo musical Quinteto Violado; e "Onde Está Meu Filho?", em coautoria, com a saga da família de Fernando Santa Cruz, preso e desaparecido político desde 1973. Como compositor tem dois CDs autorais e possui gravações em outros 27 CDs, além de um acervo de mais de 360 canções com mais de 40 músicos parceiros.

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