Sociólogo e ex-ministro da Educação Darcy Ribeiro (Foto: Divulgação)

Darcy Ribeiro e a falta que ele faz

26 de outubro de 2022, 18:27

Se não tivesse cometido a indelicada imprudência de partir para sempre em 1997, Darcy Ribeiro estaría cumprindo cem anos nesta quarta-feira, 26 de outubro.

Tive a sorte – e o orgulho – de ter vivido lado a lado com ele ao longo de seus últimos 22 anos de vida. Eu chamava Darcy de “vice-pai”, pelas ligações que ele teve com meu pai, o físico Lauro Xavier Nepomuceno, na criação da Universidade de Brasília. Por isso mesmo, desde a sua partida sinto um vazio na alma.  

Ao longo desse tempo, foram inúmeras as vezes que eu me perguntava como Darcy reagiria diante de determinadas circunstâncias que sacudiram este meu pobre país. E a resposta foi sempre a mesma: indignado.

Darcy era a própria indignação. Aliás, lembro dele uma frase que me definiu na vida. “Nesta nossa América Latina”, disse, “só temos duas alternativas: ser indignados ou resignados”. E esclarecia, enfático: “E eu não vou me resignar nunca”.

E assim, indignado, ele fez de tudo para mudar o Brasil, partindo de pilares fundamentais: salvar os índios e a natureza, asegurar a todos educação de qualidade e em todos os níveis, a começar pelas crianças, fazer a reforma agraria e colocar sob controle o capital estrangeiro especulativo.

Segunda-feira passada estive na Universidade de Brasília para a aula de recepção aos novos alunos. Na platéia, misturados a eles havia veteranos e veteranas, professores e professoras. Foi uma emoção para mim.

E hoje, seu centenario, não poderia deixar de registrar a data.

Tenho a certeza olímpica de que diante deste país tão destroçado, diante dessa desequilibrada e corrupta besta-fera que nos preside, diante de todo esse horror, Darcy estaría mais indignado que nunca.

Estaría entrincheirado para colocar um fim nessa boçalidade imunda em que o Brasil foi mergulhado.

E, como sempre, teria os dois olhos postos no amanhã, para construir a partir da poeira da destruição o futuro que ele sempre buscou.

Que sua indignação e sua luta sirva de guía para todos nós, a começar pelo Lula. Para todos nós, que ainda queremos um país digno, e que por isso mesmo estamos irremediavelmente indignados.  

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Escrito por:

Eric Nepomuceno é jornalista e escritor

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