Javier Milei (Foto: Reuters/Agustin Marcarian)

Extrema-direita: Milei no rastro de Trump e Bolsonaro

20 de novembro de 2023, 16:03

Ainda que chocante, a vitória de Javier Milei nas eleições do último dia 19/11 já se anunciava, assim como é certa a repercussão desse desastroso resultado eleitoral em todo o nosso continente sul-americano, seja na esfera econômica, seja na social e na política. O que é pior e ainda mais indigesto: foi uma vitória superlativa do projeto fascista internacional. A diferença de votos, essa sim, inesperada e surpreendente. E isso tem implicações futuras muito importantes, inclusive na força da resistência que o projeto anarcocapitalista predatório de Milei encontrará junto às instituições democráticas. 

O nosso século, certamente um dos mais convulsivos, diluiu a ideia que tínhamos de que havia segurança na consolidação democrática. Não temos segurança alguma. As democracias burguesas são fluidas aos interesses de dominação colonial nos países periféricos e aos desejos de predação contra as massas despossuídas. Sim, o colonialismo persiste e temos vivido isso claramente. 

A eleição de Milei, como tantas outras que temos testemunhado estupefatos, mostra que a democracia e as proteções sociais conquistadas a um custo tão alto vêm sendo relativizadas, tratadas como dispensáveis. No sistema capitalista do século 21, os direitos dos trabalhadores, conquistas sociais, são encarados como uma espécie de encargo, “impedimento de exercício das liberdades”; nesse conceito deturpado de liberdades, encampado pela extrema-direita e que assume a condição de uma deidade. 

Sim, temos um problema grave diante de nós e o mais trágico é que não temos muito tempo para fazer uma concertação, para que se discuta as alternativas para reverter o avanço do fascismo na era dos algoritmos. No Brasil, por exemplo, o rodo cotidiano não tem permitido reflexão, vivemos no toma lá da cá das negociações do dia a dia no Congresso, as crises sucessivas que nos demandam toda a atenção.

A eleição acachapante de Milei revelou o quanto a democracia pesou nas escolhas para os próprios argentinos. Uma espécie de plebiscito que os progressistas perderam para a extrema direita, justamente em um país que acreditávamos ter consciência e memória do que representou uma das ditaduras mais sanguinárias do Cone Sul. 

Com certeza, haverá resistência dos sindicatos e do Congresso de maioria Peronista. Mas a democracia já foi golpeada duramente pelas propostas do eleito, que, como vimos, foram no mínimo  normalizadas pelos eleitores, entre elas a afirmação da vice, Victoria Villarruel, de que a crise econômica só será vencida na Argentina com uma tirania. Prevendo as dificuldades, o futuro presidente já se adiantou, dizendo que seu governo não irá aceitar protestos da oposição. 

O script dessa trágica história deverá ser o mesmo de Trump e Bolsonaro, o ataque aos pilares do estado democrático de direito. É bom lembrar que Milei terá dificuldades enormes para negociar com rivais que ofendeu durante a campanha e que estão no comando do legislativo. E em um país federativo, onde os governadores têm muito poder, Milei não conta com um único governador de seu partido. Resta ao novo presidente atacar as instituições e colocar seus apoiadores em constante mobilização, na ameaça à estabilidade política e social. É através dessa manipulação de narrativas que Trump e Bolsonaro se mantém populares, apesar dos recentes fracassos nas urnas.

Escrito por:

Jornalista com passagem pelas principais redações do país: Folha de São Paulo, JT, TV Globo, TV Manchete, TV Cultura, TV Gazeta, TV Brasil, TVE/RIO, Rede Minas, Rádio Eldorado, Rádio Tupi, Rádio Nova FM, Rádio Musical e colaborador do El País Brasil e Brasil 247

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