Girão e o feto gerado no ovo da serpente.
Mesmo nesses tempos de absurdo e estupidez ainda em progresso da política brasileira, não é fácil abstrair a possibilidade de um senador da República andar com uma réplica de borracha de um feto humano de 11 semanas no bolso. Mais bizarra, ainda, foi a disposição do parlamentar em questão, o senador Eduardo Girão (Novo-CE) de tentar entregá-lo ao professor Silvio Almeida, ministro do Direitos Humanos, durante uma audiência pública, no Senado Federal.
Estúpido, sórdido, asqueroso, mas não surpreendente.
O tropeço histórico que permitiu, em 2018, a eleição de um demente fascista para a Presidência da República, permitiu a eclosão de ovos da serpente em toda parte, mesmo depois da derrota de 2022.
A estratégia de Girão, figura exageradamente patética, mesmo para os padrões bolsonaristas, está em total sintonia com a rotina de delinquência imposta à vida republicana pelos seguidores de Jair Bolsonaro – o mitômano da morfina que passa os dias buscando uma saída para o abismo penal que a ele se anuncia.
Silvio Almeida é um intelectual elegante, sofisticado, educado o bastante para ter reagido como cabe a um democrata, com indignação e firmeza, quando o mais correto, ninguém há de negar, seria enfiar o feto de borracha goela abaixo de Girão. Diante do espetáculo bisonho que se apresentava à sua frente, coube ao ministro expor ao Brasil o nível subterrâneo de uma figura deplorável o bastante para, numa sala do parlamento, recorrer à delinquência moral para defender uma posição antiaborto.
Um escárnio, como disse Almeida.
Mas, definitivamente, se o conteúdo causou espanto, o método não surpreendeu ninguém. Por isso, a praga do bolsonarismo tem que ser extirpada da vida nacional, sob o risco de dano irreversível do tecido social do País.