FOTO DE ARQUIVO: A então parlamentar da oposição Maria da Conceição Tavares, do Partido dos Trabalhadores (PT), está cercada por apoiadores ao chegar do lado de fora da Câmara dos Deputados do Congresso antes de votar um polêmico projeto de reforma previdenciária em Brasília. (Foto: Reuters )

Maria da Conceição Tavares

8 de junho de 2024, 17:54

Quando envolve tantos sentimentos de admiração e perda falar a respeito é difícil demais. Maria da Conceição Tavares, uma força da natureza humana, um furacão branco, preto, marrom, uma apoteose fumegante de conhecimento, emoção, garra e compromisso com a justiça social. Mulher linda, que as lutas e a idade tornaram ainda mais formosa. 

Eu me aproximei dela por ocasião da primeira campanha de Dilma à Presidência, em disputa contra Serra. Então, a convidei, e ela aceitou o convite, para almoço pró-Dilma que organizei em casa de Lily, a viúva de Roberto Marinho. Eram 50 mulheres, várias lideranças femininas. Na mesa principal, com a homenageada e as anfitriãs, Maria da Conceição Tavares, Benedita da Silva, Lucy Barreto, enfim, éramos 10 à mesa. 

A repercussão do almoço levou a equipe responsável pela campanha de Dilma na internet, que ainda engatinhava, a me procurar, pedindo que reunisse em minha casa um grupo de mulheres para gravar vídeos com declarações de apoio ao site da campanha. 

Convidei, é claro, Maria da Conceição. Ainda tateando na seara política, perguntei a Conceição, que fora professora, tanto de José Serra quanto de Dilma, em que eles diferiam. Ela respondeu com a voz da sinceridade: “No conhecimento da economia, os dois sabem igual. O que os diferencia é que Dilma tem sensibilidade social”. E tocou no coração. Ah, que bom ouvir isso! 

Naquele ano 2010, Conceição celebrava seus 80 anos. Houve várias homenagens, inclusive no grande auditório lotado do Clube de Engenharia, então presidido por meu marido, Francis Bogossian. No palco, a mesa com a economista e outros ilustres, mas eu só lembro dela, prestava atenção, tentando não esquecer sequer uma palavra sua. Claro que esqueci. Mas ficou aquele rasgão de luz e consciência na minha incipiente formação. 

Por tudo isso, hoje sinto mais, e mais me comovo, do que por tantas perdas recentes sofridas, e sem subestima-las. Perder Maria da Conceição foi perder uma inspiração, um motor, uma alavanca transformadora. Não foi uma perda solitária minha. Foi uma perda da Nação brasileira. Uma perda do povo, que certamente não vai sofrer por isso, pois o povo é, foi e sempre será o último a saber.

Escrito por:

Formação acadêmica: Conservatório Nacional de Teatro 1967-1969, Rio de Janeiro
Jornalista, atriz e diretora do Instituto Zuzu Angel/Casa Zuzu Angel - Museu da Moda. Manteve colunas diárias e semanais, de conteúdos variados (sociedade, comportamento, cultura, política), nos jornais Zero Hora (Porto Alegre), O Globo, Última Hora e Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), onde também editou o Caderno H, semanal.
Programas de entrevistas nas TVs Educativa e Globo.
Programas nas rádios Carioca e Paradiso.
Colaborações e/ou colunas nas revistas Amiga, Cartaz, Vogue, Manchete, Status, entre outras publicações).
Atriz de Teatro, televisão e cinema, de 1965 a 1976
Curadoria de Exposições de Moda: Museu Nacional de Belas Artes, Museu Histórico Nacional, Itau Cultural, Paco Imperial, Casa Julieta de Serpa, Palacio do Itamaraty (Brasilia), Solar do sungai (Salvador).
Curadoria do I Salao do Leitor, Niterói

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