(Foto: Isac Nóbrega/PR | FABIO RODRIGUES-POZZEBOM/ABR)

O bolsonarismo aposta na fraude eleitoral impressa e inauditável

2 de agosto de 2021, 20:40

De todas as teses estapafúrdias que o bolsonarismo já produziu ou encampou – e olhe que não foram poucas, da criminosa imunidade de rebanho à bizarra Terra plana -, nenhum se compara em termos de insanidade e de nonsense com a patacoada do tal do “voto impresso auditável”. Chega a ser constrangedor se pegar ouvindo a pregação de um defensor de tamanha maluquice. Beira o inacreditável imaginar alguém, que tenha feito ao menos o Jardim II, seja um adepto de um troço tão absurdamente ridículo.

É como se, daqui a pouco, surgissem movimentos exigindo caneta tinteiro em vez de esferográfica, filme de rolo em vez de foto digital, cinema mudo em vez de Netflix, coche a cavalos no lugar de automóveis, ditadura ao invés de democracia. Opa! Quem disse que não é isso que esse povo quer? Os bolsonaristas que foram às ruas no último domingo estavam ali pra isso mesmo, para fazer de teses aparentemente cômicas como o fim da urna eletrônica o pano de fundo do escancaramento de um processo em curso que visa dar um golpe mortal na democracia brasileira.

A fraude eleitoral que os bolsonaristas mentem querer evitar sumiu do país justamente com a chegada da urna eletrônica, em 1996, quando a cédula de papel tornou-se coisa do passado. Até então eram constantes, aí sim, tentativas de burlar a lei. De lá para cá, nenhum caso sequer de tentativa de golpe nas eleições através do mau uso da tecnologia foi registrado.

A última denúncia de fraude foi feita dois anos antes, nas eleições de 1994, a última com voto de papel. Na época, o então candidato a deputado federal Jair Bolsonaro foi um dos que vieram a público denunciar o crime e pedir pela modernização do sufrágio através de urnas eletrônicas. O candidato seria reeleito pelo estado do Rio de Janeiro, o segundo de um total de sete mandatos, sequência interrompida em 2018 quando ele se elegeu presidente da República.

Esta mesma eleição de 2018, assim como a eleição de Dilma Rousseff, em 2014, são apontadas pelos bolsonaristas, por orientação do “mito” deles, como exemplos de fraude eleitoral. Mesmo que, ao final, nenhuma prova seja apresentada. No primeiro caso, segundo a mentira  espalhada, o pleito era para ter terminado no primeiro turno, enquanto que, no segundo, o tucano Aécio Neves teria sido prejudicado pela suposta fraude, lorota descartada pelo próprio PSDB, partido de Aécio, que fez sua auditoria e nada de errado constatou.

Na semana passada, num espetáculo tão patético quanto a tese do voto impresso, Bolsonaro fez um pronunciamento constrangedor à imprensa, a quem havia prometido provas de fraude nas duas eleições. Nada foi apresentado, por uma razão muito simples: nada havia para se apresentar a não ser mais uma fake news, marca de seu governo e da sua trajetória política.

Tudo na tese do voto impresso auditável é ridículo. Primeiro, que auditável o voto eletrônico já é e sempre foi. Uma auditoria gigantesca que pode ter a participação da sociedade civil através de seus órgãos de representação, partidos políticos, OAB, Procuradoria-Geral da República, Polícia Federal, academia etc. O que o bolsonarismo quer é justamente não permitir qualquer espécie de auditoria no processo eleitoral. E a nota divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral e assinada por todos os presidentes do órgão desde 1988, ano da Constituição Cidadã, desnuda as intenções de Bolsonaro e sua patuleia.

Depois, a patetice de se dizer que a apuração atual é feita “a quatro paredes, dentro do TSE”. A apuração rápida e automática, como a que é feita hoje pela Justiça Eleitoral, é um trunfo do Brasil que coloca o país na vanguarda da tecnologia e da segurança eleitoral. Querer retroceder a uma extemporânea contagem manual de 150 milhões de votos denota, aí sim, ingenuidade ou má fé. É muito difícil que tipos feito Bolsonaro e seus apoiadores se enquadrem no primeiro grupo.

Escrito por:

Jornalista e compositor, com passagem por veículos como o Jornal do Commercio (PE) e as sucursais de O Globo, Jornal do Brasil e Abril/Veja. Teve colunas no JC, onde foi editor de Política e Informática, além de Gerente Executivo do portal do Sistema JC. Foi comentarista político da TV Globo NE e correspondente da Rádio suíça Internacional no Recife. Pelo JC, ganhou 3 Prêmios Esso. Como publicitário e assessor, atuou em diversas campanhas políticas, desde 1982. Foi secretário municipal de Comunicação. Como escritor tem dois livros publicados: "Bodas de Frevo", com a trajetória do grupo musical Quinteto Violado; e "Onde Está Meu Filho?", em coautoria, com a saga da família de Fernando Santa Cruz, preso e desaparecido político desde 1973. Como compositor tem dois CDs autorais e possui gravações em outros 27 CDs, além de um acervo de mais de 360 canções com mais de 40 músicos parceiros.

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