Maceió (Foto: Reprodução (TV Gazeta))

Sal-gema, Maceió. Um crime imperfeito

3 de dezembro de 2023, 14:19

Maceió vive hoje um quase adeus. 

A terra de praias lindas e gente de alto astral está afundando na sal-gema, na pasta lamacenta do capitalismo desmedido. 

A exploração criminosa e inconsequente do minério usada como matéria prima para PVC e soda cáustica, entre outros produtos de 100ª utilidade, mas altíssimo lucro, foi legalizada e iniciada entre 1976 e 77. 

Vivíamos – ou sofríamos, em muitos casos morríamos, noutros desaparecíamos – uma ditadura militar. 

O governo estadual era biônico, nomeado pelo ditador de plantão, na época Ernesto Geisel, general do Exército brasileiro. 

O governador ungido de então era Divaldo Suruagy, de parca memória, que, atropelou todos os pareceres de estudiosos e ambientalistas, contrários à escavação de minas de tal porte em ambiente urbano. 

O quanto essa inconsequente empreitada trouxe de volta para o povo alagoano, ninguém sabe. Igualmente desconhecida, é a lista de quem levou vantagens financeiras com esta boquinha.

Se o erro foi de origem, o atentado ao bom senso se dá até hoje. Mais de 1.500 minas foram escavacadas, algumas a apenas dezenas de metros de distância uma da outra. Insanidade ampla, geral e irrestrita.

O oco no subsolo de Maceió deixado com a exploração irresponsável da Braskem, a “dona” da Salgema, sabe-se hoje, é irreparável.

O oco de decência aberto pelo caso na economia e na política das Alagoas, com certeza, é irremediável.

A capital da Terra dos Marechais foi  saqueada, literalmente. Sempre em nome do desenvolvimento, do progresso, do emprego e renda. Resultado: abalos sísmicos não naturais, provocados, dolosos. Um crime praticado por (falsos) líderes empresariais e políticos.

Como tantos e como dantes, ninguém vai pagar por isso. Nem na bela Lagoa Mundaú, que hoje corre o risco de sumir. Muito menos no Quartel de Abrantes.

Escrito por:

Jornalista e compositor, com passagem por veículos como o Jornal do Commercio (PE) e as sucursais de O Globo, Jornal do Brasil e Abril/Veja. Teve colunas no JC, onde foi editor de Política e Informática, além de Gerente Executivo do portal do Sistema JC. Foi comentarista político da TV Globo NE e correspondente da Rádio suíça Internacional no Recife. Pelo JC, ganhou 3 Prêmios Esso. Como publicitário e assessor, atuou em diversas campanhas políticas, desde 1982. Foi secretário municipal de Comunicação. Como escritor tem dois livros publicados: "Bodas de Frevo", com a trajetória do grupo musical Quinteto Violado; e "Onde Está Meu Filho?", em coautoria, com a saga da família de Fernando Santa Cruz, preso e desaparecido político desde 1973. Como compositor tem dois CDs autorais e possui gravações em outros 27 CDs, além de um acervo de mais de 360 canções com mais de 40 músicos parceiros.

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