Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert)

Sem oba-oba nem derrotismo – muita calma nessa hora

15 de agosto de 2022, 10:52

Quem tem alguma experiência em campanhas eleitorais conhece o efeito psicológico da movimentação de alguns pontos dos candidatos nas pesquisas na reta final. Ainda que sejam variações localizadas, sem representar ainda tendências confirmadas, simpatizantes e até dirigentes de campanhas que vêem o adversário subir são, às vezes, tomados pelo nervosismo. Nessa vibe, tentam caçar culpados, perdem tempo em discussões de mudanças que não vão fazer diferença, vazam preocupação  à imprensa e, com isso, acabam multiplicando os efeitos negativos, e aumentando o impacto daquilo que, aos olhos do eleitor, poderia não ter maior importância. 

Do outro lado, o adversário aproveita-se da situação para tentar transformar sua variação dentro da margem de erro em “onda”, produzindo reações e se comportando como se seu candidato tivesse disparado — numa tentativa de criar uma espécie de profecia auto-realizável. Melhor exemplo disso é o senador Flavio Bolsonaro pedindo à campanha do pai para evitar “salto alto” — como se estivesse dez pontos à frente de Lula, e não ao menos 12 pontos atrás, conforme a pesquisa da semana passada. 

Ninguém nunca disse que a eleição de Lula seria um passeio, apesar de tantas pesquisas que apontavam, ao longo de muitos meses, a possibilidade de vitória sobre Jair Bolsonaro já no primeiro turno, tal a  imensidão da vantagem. Sempre foi óbvio que, na medida em que se aproximasse a eleição, o quadro poderia se mexer de alguma forma — sobretudo depois da aprovação da eleitoreira PEC Kamikaze, com seus aumentos de Auxílio e bolsas. 

Alguma coisa Bolsonaro iria ganhar, ainda que modesta mas  possivelmente o suficiente para empurrar a eleição para um segundo turno. E daí? Até agora não surgiu um só levantamento de instituto de pesquisas com mínima credibilidade que aponte a vitória de Bolsonaro sobre Lula numa segunda rodada. E nem na primeira, aliás, o presidente chegou a empatar com o petista. 

Não se justifica, portanto, a onda meio apavorada que tomou conta de aliados do ex-presidente nos últimos dias, com a divulgação de levantamentos da Genial/Quaest apontando redução de 18 pontos para 9 pontos da diferença entre Lula e Bolsonaro em Minas Gerais e um empate técnico entre os dois em São Paulo (37% x 35%). Na esquizofrenia de quem teme a reeleição de um golpista, mas não consegue largar o hábito de bater num petista, é até normal que a grande mídia tenha superdimensionado esse recorte — ainda que a pesquisa nacional do mesmo instituto tenha mantido placar de 44% (- 1) para Lula e 32% (+1) para Bolsonaro. 

Mas não que aliados, como o deputado André Janones, tenham se assustado a ponto de criticar a esquerda por “não falar com o chão de fábrica”. Se Lula não fala com o chão de fábrica, fica difícil encontrar quem fala. Os números do ex-presidente são tão confortáveis junto ao eleitorado mais pobre do país que lhe permitem perder a “gordura” (alguns pontos) que, muito provavelmente, irá perder para Bolsonaro nesse mês e meio até a eleição. Perde aqui, ganha ali, mas continua favorito — como possivelmente vai mostrar a sequência de pesquisas desta semana. 

É assim mesmo, com emoção, que as campanhas se desenrolam nas últimas semanas. Mais do que qualquer um, Luiz Inácio Lula da Silva sabe que ninguém se elege de véspera, e que não se sobe aquela rampa do Planalto sem muita luta. Já mostrou ter sangue frio para isso, e precisa estar cercado de realistas — não do oba-oba dos otimistas em excesso, mas muito menos de derrotistas. Daqui até 2 de outubro — e, se preciso, até o dia 30 — o lema deve ser: muita calma nessa hora.

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