(Foto: Alan Santos/PR)

Uma injustiça com Jair Messias

23 de setembro de 2021, 16:01

O discurso de Jair Messias na ONU deu o que falar. Choveram críticas duríssimas de tudo que é lado, e não só no Brasil. Foi mundo afora.

O direito à crítica é salutar. Faz parte essencial da democracia. Neste caso específico, porém, sinto que faltou sensibilidade nas críticas. Uma espécie de injustiça com o presidente.

Afinal, o que ele demonstrou, mais até do que a boçalidade costumeira, foi uma série de falhas na memória.

Por exemplo: não há explicação para o vendaval de deboche só porque o mandatário, com a mesma roupa da viagem, foi flagrado comendo pizza na calçada. Será que ninguém entende que, graças ao cansaço, ele esqueceu de tomar banho e trocar de roupa?  

Com a tensão da véspera do discurso, ele esqueceu que em Nova York – como em muitíssimos países do mundo e diversas cidades do Brasil – só entra em ambiente fechado quem tomou pelo menos uma dose da vacina. Será que é tão difícil de entender esse lapso de memória?

Assegurou para a plateia global que sua chegada ao poder impediu que o Brasil continuasse na beirada do socialismo que nos ameaçava. Só porque esqueceu que antes dele estava no poder um larápio usurpador chamado Michel Temer, mais críticas e ironias. Será que esquecer de repente virou pecado capital?

Lembrou que em seus quase três anos de governo não se registrou um único caso de corrupção. Pronto: só porque Jair Messias esqueceu o que ocorreu no ministério da Saúde quando um bando de militares se aboletou lá dentro, e também esqueceu as artes e manhas de seus filhotes, mais bronca.

Disse, com todas as letras, que a legislação ambiental brasileira é das mais completas e avançadas do mundo. E só porque esqueceu que é justamente do seu governo que, por inércia às vezes, por puro incentivo frequentemente, essa legislação é destroçada a cada dia, mais críticas. Esqueceu também que seu bizarro ex ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi denunciado nos Estados Unidos por contrabando de madeira extraída de maneira ilegal. Mas quem não quer esquecer semelhante besta?

Mencionou, com natural orgulho, que sob sua condução o Brasil recuperou sua credibilidade externa. Esqueceu que o país enfrenta uma fuga histórica de investimentos, mas com tanta coisa para dizer, esquecer algum ponto é natural, certo?

Lembrou que desde o começo da pandemia defendeu a autonomia dos médicos na busca do tratamento precoce, seguindo recomendação do Conselho Federal de Medicina. Esqueceu que o Conselho efetivamente defendeu a confiança entre médico e paciente, mas se opôs com todas as letras ao chamado “tratamento precoce”. Ora, será que com tanta tensão ao seu redor esquecer um detalhe como esse virou crime?

Na verdade, o que li por aí – e até por aqui, de autoria de colegas que compartilham comigo este espaço – comprova que existe uma palpável má vontade com o nosso presidente. E é por essa razão que contrariam até mesmo uma frase cuja verdade salta aos olhos de qualquer um: não houve, ao longo da história da República, governo igual ao dele.

Escrito por:

Eric Nepomuceno é jornalista e escritor

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