As fotos do que seria o anúncio do golpe têm generais e pastores

8 de setembro de 2021, 11:54

O pastor Silas Malafaia foi o mais famoso líder civil ao lado de Bolsonaro nos palanques ontem.

Ao lado de Malafaia, na Paulista, o ex-senador e pastor Magno Malta. Do outro lado, o pastor e deputado Marco Feliciano. Misturados a eles, pastores que não são famosos.

Ao lado de Feliciano, o ministro Tarcisio Freitas, da Infraestrutura, que poucos sabem quem é, mas deseja ser governador de São Paulo.

Notem que todos olham com ar de admiração e enlevo para Bolsonaro, como se estivessem participando de fato de um momento histórico.

Em Brasília, estavam ao lado de Bolsonaro os generais Hamilton Mourão, Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos e o senador Marcos Rogério, aquele da CPI do Genocídio, que mantinha um importante assessor envolvido com traficantes.

O detalhe relevante desta foto é o estilo despojado e esportivo dos generais, que certamente foi combinado.

Eles tentam passar duas mensagens. A primeira é a de que estão ali como civis, e não como militares da reserva.

Mas todos esperam que, mesmo assim sejam vistos como generais, de camiseta, mas generais, e todos bem juntinhos de Bolsonaro.

A segunda mensagem pode parecer conflitante com a primeira. A sensação é de que os três estavam em casa e saíram com roupas de feriadão, para logo depois voltarem direto para o churrasco. Assim eles tiram a solenidade do ato.

Os generais evitam tratar o fato com um mínimo de cerimônia e liturgia, para dar a entender que estão de passagem no que pode ser qualquer coisa, menos uma homenagem ao 7 de setembro.

Os generais avisam: nós estamos aqui, esportivamente, sempre ao lado de Bolsonaro, mas desse jeito que vocês estão vendo.

Mas e os outros líderes, onde se meteram? Bolsonaro repetiu dias antes do discurso e voltou a dizer nos dois discursos que iria tirar uma foto do que poderia ser a preparação para o golpe.

Os ministros civis decidiram ficar de fora da foto histórica? E os deputados do centrão?

E os empresários do agro pop? E os grileiros? E os vendedores de cloroquina e vacina superfaturada?

Bolsonaro foi abandonado ontem em Brasília e em São Paulo.
Se não tivesse os militares em Brasília e os pastores na Paulista, estaria quase sozinho.

O resto era gente quase anônima, papagaios do 7 de Setembro.
Nem os filhos apareceram para tirar a foto com o pai.

https://www.blogdomoisesmendes.com.br/o-pilau-do-merval/

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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