No Brasil de Jair Bolsonaro e de Paulo Guedes, a educação e a cultura são gêneros de derradeira necessidade. Taxar em 12% os livros no País se enquadra nesse tipo de diretriz
No Brasil de Jair Bolsonaro e de Paulo Guedes, a educação e a cultura são gêneros de derradeira necessidade. Taxar em 12% os livros no País se enquadra nesse tipo de diretriz

Taxar livros faz parte de um projeto de poder

13 de agosto de 2020, 16:40

No Brasil de Jair Bolsonaro e de Paulo Guedes, a educação e a cultura são gêneros de derradeira necessidade. São focos de doutrinação marxista. São berços do comunismo latente que caracteriza, segundo eles e seus áulicos, o ambiente em salas de aula infestadas pelas ideologias de esquerda e por professores que se prestam muito mais a forjar terroristas que a ensinar, por exemplo, uma boa operação de regra de três ou a extração correta de uma raiz quadrada.

Ao mesmo tempo, somos, para esse tipo de governante, um país de um custo altíssimo, fato que só deve ser enfrentado facilitando a vida das chamadas classes produtoras. Por esses entenda-se, além de quem produz, quem tem e tem muito. Nessa linha, não há uma mísera proposta desses senhores no sentido de aumentar impostos sobre os ricos, sobre as grandes fortunas, sobre os grandes capitalistas.

Ao longo de todo lero-lero que surge na imprensa quando eles falam em reforma tributária, o cipó de aroeira canta mesmo é no lombo do assalariado, particularmente no do servidor público, tido e havido, historicamente, como a raiz de todos os males que afetam as nossas finanças públicas. A velha lorota: o Estado é sempre o culpado de tudo, até do que não pode ter culpa; a iniciativa privada tem sempre a solução mágica para todos os problemas do País, do saneamento à educação.

Não dá para se estranhar nada, de quem pensa com a cabeça dos banqueiros e dos grandes capitalistas e traz n’alma o ódio arraigado de qualquer pensamento social, sobre uma proposta abjeta como a de se taxar os livros com 12% de alíquota. Essa gracinha está embutida numa pomposa Contribuição Social Sobre Operações de Bens e Serviços. Tem toda lógica que essa trolha venha de alguém como o ministro da Economia, cujo coração bate em acelerado frenesi quando estão em jogo os interesses dos ricos. Não à toa, ele fica possesso quando o comparam sua forma rápida e dura de tratar os assalariados e, ao mesmo tempo, sua fofa docilidade no trato com os banqueiros. Não vou nem dizer de que já lhe chamaram…

Nesta quinta-feira, a Ordem dos Advogados do Brasil criticou duramente essa proposta imoral e irresponsável. Lembra a OAB do prejuízo que será causado ao universo editorial, das editoras e livrarias aos profissionais do setor. Mas, o grande prejuízo será mesmo à educação e à cultura. E, nesse aspecto, não podemos chamar Bolsonaro, Guedes et caterva, propriamente, de incompetentes. Nesse aspecto, eles estão pondo em prática um projeto de poder. Fazem exatamente aquilo para que foram postos no governo.

Escrito por:

Jornalista e compositor, com passagem por veículos como o Jornal do Commercio (PE) e as sucursais de O Globo, Jornal do Brasil e Abril/Veja. Teve colunas no JC, onde foi editor de Política e Informática, além de Gerente Executivo do portal do Sistema JC. Foi comentarista político da TV Globo NE e correspondente da Rádio suíça Internacional no Recife. Pelo JC, ganhou 3 Prêmios Esso. Como publicitário e assessor, atuou em diversas campanhas políticas, desde 1982. Foi secretário municipal de Comunicação. Como escritor tem dois livros publicados: "Bodas de Frevo", com a trajetória do grupo musical Quinteto Violado; e "Onde Está Meu Filho?", em coautoria, com a saga da família de Fernando Santa Cruz, preso e desaparecido político desde 1973. Como compositor tem dois CDs autorais e possui gravações em outros 27 CDs, além de um acervo de mais de 360 canções com mais de 40 músicos parceiros.

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