Bolsonaro e a Páscoa

4 de abril de 2021, 20:05

Tive uma infância católica, típica da classe media do Rio de Janeiro. Cresci ao lado da igreja de Santa Margarida ali na Lagoa. Para mim a Páscoa sempre foi, em primeiro lugar, feriado e depois, uma ocasião para comer chocolate. O significado cristão ficava para os sermões que às vezes me davam medo. Mais tarde me inteirei da história toda e hoje, com a população brasileira de Cristo nas mãos do Bolsonaro, tudo volta à tona.

Os apóstolos foram 12, mais os discípulos, era toda uma galera que mantinha Jesus vivo e espalhava seu evangelho. Uma espécie de instituições democráticas diante do poder autoritário dos romanos bolsomínions. Judas Iscariotes quebrou a hegemonia. Entregou Jesus aos opressores e o resto nós sabemos. O ministro Kássio Nunes, que Aroeira brilhantemente cunhou de Kássio Conká, saiu beijando a democracia em todas as ocasiões em que foi chamado. Perdeu de goleada todas e acabou, ou por raiva ou por obediência, liberando sozinho a abertura dos templos, sobretudo os evangélicos para ver se sobra voto em 2022 para o seu patrão. O povo brasileiro continua sendo perseguido, chicoteado e crucificado por conta também dessa atitude traiçoeira do Judas.

Quando digo sobrar um voto é para não aprofundar a história das 30 moedas, mais fiel à tradição dos traidores e à tradução do evangelho.

Os ministros do Supremo continuam sentados à mesa, separadamente, nesta espécie de última ceia da democracia. Resistiremos à perseguição dos romanos ou entregaremos Jesus em todas as esquinas, templos e aglomerações. Ontem a malhação do Judas mostrou um outro caminho.

Nesses 2 mil anos que se passaram veneramos, idealizamos, preservamos a imagem deste homem controverso que dizem que existiu e criou a maior subversão entre a população da época. Hoje, se o povo brasileiro for realmente crucificado dificilmente subirá aos céus. Ficará por aqui mesmo tentando achar um pedaço de terra para cair morto, “uma cova rasa que é a parte que lhe cabe neste latifúndio”.

Até quando, ó pai, perguntará esse Jesus popular, esse povo continuará sendo tão perseguido e maltratado?

Que esse mal pare diante da reação não só dos apóstolos, mas de toda a população. No templo aberto não vai rolar salvação. Orar é uma questão particular. Os mulçumanos provam isso o tempo todo. Em qualquer lugar eles estendem seu tapete, se voltam para Meca e oram. Os templos abertos, na realidade, acumulam vírus e lucro.  Que essa guerra “santa” acabe com parte do povo sobrevivente para contar, pelos próximos 2 mil anos, a história de um país crucificado, mas que resistiu passando de boca em boca a memória viva de uma vida feliz. Afinal é isso que a Páscoa prega.

Que Jair Messias não consiga ressuscitar depois de perder as eleições de 2022.

Escrito por:

Cartunista, diretor de arte e ilustrador além de jornalista, comentarista e autor de teatro, cinema e televisão.

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