
Censura e Ditadura
Aproveito que muito se tem falado sobre censura e ditadura para tentar passar um pouco da minha experiência com a verdadeira censura e a terrível ditadura. Em 1968 eu tinha 18 anos e a ditadura começava a mostrar suas garras. Um ano depois entrei para o Pasquim e aí fui apresentado a ela. A ditadura já corria solta. Nessa mesma época fui preso como estudante no famoso episódio da reitoria na Praia Vermelha no Rio de Janeiro. Tinha muita gente junto, levei soco na barriga, fui ameaçado dentro de um ônibus prisão de ligarem o gás e por aí afora.
Só não fiquei mais apavorado porque era jovem e como tal, bastante destemido. Fiquei apavorado logo em seguida quando tive que fugir de balas zunindo no meu ouvido pela Avenida Presidente Vargas. Morri de medo e não fui à famosa passeata dos 100 mil. Perdi, mas começava a sentir na pele o que a ditadura fornecia. Mais pra frente fui preso novamente junto com o Sérgio Augusto, o jornalista que trabalhava no Pasquim e Bruno Barreto, fotógrafo à época e futuro diretor de cinema. Ficamos uma noite no Dops e depois fomos liberados.
Não aguentei a barra e fui embora para a Itália. E eu não era nem organizado. Era um jornalista e cartunista em começo de carreira e já apavorado. Vivi na Itália por 6 anos e pude respirar novamente a liberdade. Esse é um pequeno exemplo do que foi a ditadura pra mim. O clima era horrível. Sabíamos que pessoas eram presas e mortas, que a guerrilha se organizava no interior do país e que o verde oliva era uma cor de pesadelo. E tem gente que quer isso de volta. Ou desconhece ou é realmente fascista que precisa da opressão e repressão para sobreviver. Eu não quero.
A censura, decorrência direta da ditadura tentava calar a boca da imprensa, da música, do teatro, e de tudo o mais para que não se dissesse a verdade, não se mostrasse a realidade para o povo e não se fizesse cultura. No Pasquim tínhamos que mandar todas as matérias do jornal com sobra para serem cortadas por um idiota que suspeitava do que não entendia. E tínhamos que aceitar. Levar letras de música para um desconhecido palpitar e cortar também era comum. Encenar uma peça de teatro deixando a primeira fila reservada para censura voltar quando quisesse e verificar se os cortes estavam sendo respeitados também era o que acontecia. Este era o clima.
Pergunto então se é isso que vemos hoje e que a direita propaga como censura? Vivemos assim ou é assim que vocês querem viver se tomarem o poder novamente. Não queremos e não vamos deixar. Esse clima de terror passou e se depender do espírito democrático da galera não voltará, mesmo que eles queiram. Pelo voto conseguiremos manter a democracia. Esta é a ideia.