(Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)

Centrão e mídia de direita semeiam clima de “já perdeu” para cobrar mais caro

7 de março de 2023, 21:36

Os pronunciamentos de líderes políticos de direita e análises dos comentaristas da mídia corporativa vão no mesmo sentido: o governo Lula enfrenta uma situação bicuda para montar sua base de apoio no Congresso Nacional.

 O presidente da Câmara,  Arthur Lira, afirma que o presidente Lula, a rigor, não dispõe ainda nem sequer de uma base política fiel ao Palácio do Planalto.

 Todos os veículos da midia corporativa repetem sem questionar o mesmo diagnóstico expresso por Lira.

 O que o governo conseguiu angariar até agora não é suficiente para juntar o mínimo necessário para aprovar qualquer projeto importante na Câmara nem no Senado. Nem mesmo os mais simples, para não falar da reforma tributária e outras matérias de quórum mais qualificado.  “Aguardamos o amadurecimento da base do governo. Hoje, o Governo ainda não tem uma base consistente na Câmara e no Senado”, afirmou Lira, em palestra na Associação Comercial de São Paulo.

 A manifestação de Lira expressa uma realidade sabida por todos desde ainda antes de 2 de outubro.

 A frente ampla que venceu as eleições para presidente não logrou fazer valer essa mesma  vantagem na composição das bancadas de deputados e senadores.

Distorções do sistema eleitoral inviabilizam a expressão da vontade popular nas bancadas.

 Mais uma vez, o sistema eleitoral pariu um aleijão de direita, fisiológico,  desconjuntado e disfuncional.

Não há a rigor novidade:  de novo um governo petista terá dificuldades para aprovar projetos como ocorreu em todas as suas prévias administrações. Isso é sério e já redundou até na pressão extrema em torno da farsa do mensalão e no golpe do impeachment.

 Há que reconhecer, porém, a existência de um interesse de usar o  circuito informativo para disseminar um certo terror. Há uma articulação direitista voltada para difundir disseminar uma impressão de terra arrasada, um clima de “já perdeu” para o governo Lula.

 Quanto mais urgentes e alarmistas forem as alegações de dificuldade e crise neste início de gestão, mais caras ficam as soluções vendidas. Há interesses por trás da formação desse clima

 Existe da parte de alguns aliados de conveniência do governo, inclusive na mídia corporativa, um afã de alambrar as decisões políticas do governo usando o fracasso como arma.

 Esses aliados são portadores de soluções, que coincidentemente são emplastros neoliberais, privatizantes e antipetistas, no sentido de que alienam seus líderes e, principalmente, suas bandeiras.

 Em resumo, esses mercadores de facilidades, fazem diagnóstico interessado em aumentar seu poder na correlação de forças política.

 Alguns deles, representantes de líderes poderosos na mídia monopolista, estão empenhados em passar a impressão de que sem implementar suas ideias o governo Lula vai fracassar, do que adviria um destino inaceitável, a volta de Bolsonaro. Eles se declaram amarrados ao destino do governo de Lula.

 O destino trágico poderia ser evitado, de acordo com essas opiniões, desde que o governo Lula  aceite aplicar as suas proposições: anular o PT “radical” e adotar as posições do mercado financeiro.

 A lua de mel desses setores com o governo Lula, uma aliança que está cada vez mais nas considerações da banca, da mídia e do próprio Centrão, deixa seus participantes neoliberais especialmente interessados em afetar ansiedade.

 Do lado do governo petista e do seu arco de alianças, o trabalho vem sendo feito. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, já arriscou um número. Segundo ele, a julgar pelos partidos integrantes da Frente Ampla eleitoral mais as agremiações que receberam ministérios, a base pode contar até com 300 integrantes.

 O líder do PT na Câmara,  deputado Reginaldo Lopes (MG) afirma que a  base está sendo consolidada.

 Qualquer arranjo desses  é móvel, em função do foco da disputa política em cada momento e dos interesses em jogo. Todos os presidentes têm vitórias e derrotas. Não será diferente neste governo. A base será montada e estará em teste até o momento da primeira votação mais importante. Até lá, não há porque se deixar impressionar por diagnósticos catastrofistas, eles mesmo a serviço de levar a melhor no certame.

Escrito por:

Jornalista, diretor da Casa do Saber, ex-secretário de Redação e ex-ombudman da Folha, ex-ombudsman da Folha e do iG. Knight Fellow da Universidade de Stanford. Doutor em Letras Clássicas pela USP

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