Jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira (chapéu) (Foto: Ministério da Defesa/Divulgação via REUTERS)

Desaparecidos: alguma esperança?

12 de junho de 2022, 12:16

Neste domingo doze de junho se cumpre uma semana do desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do renomado indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira nos rincões amazônicos que fazem fronteira com Peru e Colômbia.

Dois dias antes, na sexta-feira, Alessandra Sampaio – há nove anos casada com Phillips e mãe de seus três filhos – disse, numa entrevista publicada no jornal O Globo, que tinha perdido a esperança. Que tudo que queria era que os restos do companheiro fossem encontrados para que ela pudesse realizar um enterro digno.

Dois dias depois, no domingo, foi a vez da Maria Lúcia, mãe de Alessandra, dizer com todas as letras a quem quisesse ouvir: “Desespero total quando a gente soube e uma esperança de que eles estariam perdidos na floresta. Hoje uma certeza de eles não estarem mais entre nós”. E depois acrescentou: “Para ser sincera, não existe mais esperança”.

Não, não se trata de declarações que revelam frieza: revelam realismo. Assim que foram revelados os últimos movimentos de Bruno e Dom, e de como eles sumiram, tive primeiro o pressentimento, e com o passar dos dias a convicção, de que os dois tinham sido mortos.

E não será nenhuma surpresa se o que aconteceu permaneça protegido por um manto sufocante de confusão e informações desbaratadas, e que os responsáveis recebam punições leves.  

Há quem culpe o governo de Jair Messias por ter demorado muito além do que seria admissível para agir, da mesma forma que existem duras críticas pela descoordenação das ações levadas a cabo na tentativa de esclarecer o que aconteceu.

Essa crítica feita aqui e no exterior, até pela ONU, não chega a ser justa. 

A culpa do governo é muito mais ampla e profunda do que o desleixo inicial e a desorganização que veio depois na tentativa de resgatar os desaparecidos. 

Neste caso específico mais do que culpa o correto é falar de responsabilidade direta, de cumplicidade.

Em toda a Amazônia, com destaque para a região do Vale do Javari, a violência existe há muitíssimo tempo. Essa violência se traduz não apenas na devastação florestal, mas também no ataque às comunidades indígenas e a quem trata de protegê-las.

Não há antecedente algum, porém, de um presidente que tenha incentivado de maneira tão escandalosa a devastação do meio ambiente e, mais grave ainda, a invasão de territórios indígenas por garimpeiros ilegais, madeireiros ilegais, caçadores ilegais, pescadores ilegais, traficantes de minério e drogas, enfim, incentivado de maneira tão olímpica e persistente tudo que é crime.

Tampouco há antecedentes de um presidente que tenha se esforçado tanto para desmantelar a FUNAI e todo e qualquer organismo destinado a preservar natureza e vidas.

Em 2021 e este ano relatórios contundentes sobre invasões de terra, pesca ilegal, mineração ilegal, ameaças, presença de grupos armados e tiros disparados por invasores foram entregues ao ministério Público Federal em Tabatinga, à Força de Segurança Nacional, à FUNAI.

E o que foi feito pelo governo do pior presidente da história da República? Nada. Apenas anúncios de ações que avançam na velocidade de uma tartatura com cãibra ou nem avançam.

Não, não é justo acusar o governo de Jair Messias de ter sido relapso nas operações de tentativa de resgate de Phillips e Bruno.

Jair Messias é cúmplice direto. E quando for catapultado da poltrona presidencial este será mais um crime que terá de responder na Justiça.

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Escrito por:

Eric Nepomuceno é jornalista e escritor

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