(Foto: Agência Brasil)

E você achando que não surgiria ministro da Saúde pior que Pazuello

22 de dezembro de 2021, 08:37

Seria, dirão, algo inimaginável alguém prever que, um dia, teríamos algum ministro da Saúde pior que o coronel do Exército. Atrapalhado, cascateiro, inconsequente, sem a menor noção do que fazer à frente da pasta (mesmo quando obedecia às ordens nefandas do “mito” a quem serviu e ainda serve), Eduardo Pazuello parecia encarnar a mais perfeita tradução do bolsonarismo de péssimos resultados. Aquele quadro da burocracia militar escolhido a dedo para testa de ferro do presidente Jair em sua anti-política de Saúde, a mesma que levou o Brasil ao caos e a tanta morte. 

Ledo engano. Ainda não conhecíamos o doutor Marcelo Antônio Cartaxo Queiroga Lopes. Médico, ao contrário do seu antecessor burocrata da área de logística, o detentor de pomposo nome chegou ao cargo pelo mesmo pré-requisito básico: aceitar assinar embaixo de “tudo que o mestre mandar”. A fim de garantir o emprego, que não fizesse como outros médicos ministros anteriores, como Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, “atrevidos” o suficiente para duvidar das verdadeiras intenções de Bolsonaro para o setor. Marcelo Queiroga disse a que veio. E veio para solista do jogral “Faremos todos”, fazendo coro às parlapatices do seu chefe maior. 

Embora também inadequado à função, por incompetência e total insensibilidade, Queiroga, no entanto, não é um Pazuello.   É de maior risco. Até por ser da área médica e teoricamente saber do que está falando mais que o seu antecessor. Ao contrário daquele, este avaliza com mais autoridade as falas e atos do presidente da República em sua corrida tresloucada pelo topo da ignorância e do negacionismo da ciência e do arrepio do bonsenso. 

É exemplar o caso da vacinação contra a Covid-19 de crianças a partir de 5 anos, ação defendida não só pela Anvisa , agência que regula a produção e distribuição de medicamentos no país, pela Fiocruz, por todas as entidades médicas sérias não somente daqui. No mundo inteiro, o tipo de providência tida hoje como fundamental para tentar conter a proliferação do vírus. Ao contrário do que expele Bolsonaro e reverbera Queiroga, a vacinação dos pequenos não é experimental, já foi testada e aprovada e está no extremo oposto do mal que os negacionistas lhe atribuem. 

Ao ir à mídia propor uma audiência pública para discutir a vacinação de crianças, o ministro da Saúde recorre a um recurso ideologicamente acanalhado, embora manjado. Audiência pública é mecanismo legítimo de regimes democráticos, mas que não se justifica no caso, já que todos os testes e estudos já foram feitos; trata-se, no caso, de mais de uma tentativa diversionista e protelativa. 

“A pressa é inimiga da perfeição” foi outra pérola do cinismo sacada do colete pelo pretensamente esperto auxiliar bolsonarista. Para começar, ele serve a um governo que manipula a pressa ao sabor de seus interesses, nunca em benefício da perfeição. Pode agir sem pressa ao demorar meses para receber uma empresa de medicamentos como a Pfizer, atrasando em demasia o início do combate real e efetivo ao Covid-19. Como pode ir com toda sede ao pote para comprar as vacinas Covaxim, superfaturadas e, 1.000% e com farta distribuição de propinas – negociata que só não foi fechada por causa da CPI da Pandemia que acabou com a boquinha. 

No país de Bolsonaro, um ministro da Saúde como Queiroga cai mesmo como uma luva. Teria um pior? À guisa de recomendação, não duvide.

Escrito por:

Jornalista e compositor, com passagem por veículos como o Jornal do Commercio (PE) e as sucursais de O Globo, Jornal do Brasil e Abril/Veja. Teve colunas no JC, onde foi editor de Política e Informática, além de Gerente Executivo do portal do Sistema JC. Foi comentarista político da TV Globo NE e correspondente da Rádio suíça Internacional no Recife. Pelo JC, ganhou 3 Prêmios Esso. Como publicitário e assessor, atuou em diversas campanhas políticas, desde 1982. Foi secretário municipal de Comunicação. Como escritor tem dois livros publicados: "Bodas de Frevo", com a trajetória do grupo musical Quinteto Violado; e "Onde Está Meu Filho?", em coautoria, com a saga da família de Fernando Santa Cruz, preso e desaparecido político desde 1973. Como compositor tem dois CDs autorais e possui gravações em outros 27 CDs, além de um acervo de mais de 360 canções com mais de 40 músicos parceiros.

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