Jair Bolsonaro em Dubai (Foto: Alan Santos/PR)

Em que buraco Bolsonaro poderia se meter?

15 de novembro de 2021, 18:34

É de fazer pensar a hipótese levantada pelo governador do Maranhão, Flávio Dino, sobre as duas viagens de Bolsonaro a Dubai, agora com quase toda a família.

Só Carluxo e Renan não foram. Carluxo porque já havia ido a Roma. E o filho mais novo teve que ficar cuidando das mansões da família.

Dino disse sobre as viagens: “São só passeio mesmo? Ou tem algo de esquisito nisso? Estão preparando o exílio para o fim dos efêmeros e desastrados anos de poder? Ou a preocupação é fugir à jurisdição do Tribunal Penal Internacional?”

Em dois casos históricos com fins trágicos, figuras poderosas não prepararam direito o plano de fuga, ou cometeram gestos que denunciaram suas intenções infantis.

Os jornais americanos diziam, a partir de informações da CIA e do FBI, que Saddam Hussein havia construído cidades subterrâneas para viver, se fosse derrubado. Não era uma, eram várias cidades.

Eu mesmo publiquei em Zero Hora, no início dos anos 2000, a partir de textos e maquetes de agências internacionais, as plantas detalhadas do que seriam esses bunkers com túneis, ar condicionado, salão de festas, salas de jogos e de cinema e todo o conforto.

Mas nada disso existia. Saddam não tinha armas químicas, não tinha para onde fugir e não tinha mais a proteção de ninguém.

Foi encontrado em 2003 dentro de um buraco imundo, como se tivesse virado um tatu, em Adwar, cidade perto de Tikrit, sua terra natal. Morreu enforcado.

Com Muamar Kadafi foi quase a mesma coisa. Caiu em desgraça quando havia acertado uma trégua com os americanos e era quase amigo íntimo até dos republicanos.

Diziam que, se quisesse, numa hora difícil, poderia fugir para inúmeras regiões dentro e fora do país, com a proteção de poderosos exércitos particulares. Kadafi teria esconderijos cinematográficos.

Em 2011, o comboio que o conduzia em fuga foi bombardeado por um avião francês. Cercaram Kadafi em Serti e ele tentou se esconder num bueiro, onde foi massacrado por inimigos internos como um cão.

Kadafi fazia o mesmo movimento de Saddam. Estava indo em direção a Jaref, onde nasceu, como se pudesse se esconder em algum buraco aberto na infância.

Para onde escapariam os déspotas de hoje? Para onde Bolsonaro e a família fugiriam, se a hipótese levantada por Flavio Dino não der certo?

Em que buraco Bolsonaro poderá se meter, quando for apenas um ex-laranja usado e abandonado por banqueiros, empresários, grileiros, latifundiários, milicianos e militares para fazer o serviço sujo?

Não é uma questão irrelevante. Podem dizer que Bolsonaro não deve ser comparado a Saddam e a Kadafi. Sim, não há comparação possível entre as figuras, mas apenas entre fatos e circunstâncias que envolvem personagens considerados invencíveis, cada um com seu devido tamanho.

Até porque Bolsonaro poderia nascer mil vezes e não teria o mesmo poder de nenhum dos dois citados. Talvez não exista nem mesmo um buraco à espera de Bolsonaro.

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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