Governador do Piauí sofre investigação, quando Bolsonaro está de malas prontas para visitar o estado

27 de julho de 2020, 18:32

Não foi por falta de aviso. A deputada federal, Carla Zambelli (PSL-SP), em entrevista no dia 25 de maio, à Rádio Gaúcha, disse no seu português fluente: “A gente – quando eu digo a gente eu quero dizer o governo, porque eu me sinto parte do governo. O presidente Jair Bolsonaro colocou um delegado da Polícia Federal… A gente já teve pra sair, mas não saíram, tá?…A gente já vai ter nos próximos meses, não sei qual é o nome que eles vão dar, mas já tem alguns chamando de “covidão”, Aonde… Não sei qual é o nome que eles vão dar, mas já tem alguns governadores sendo investigados…”

No dia seguinte, (26 de maio), a PF bateu nas primeiras horas da manhã no Palácio Laranjeiras, no Rio de Janeiro, para uma operação de busca e apreensão na residência oficial do governador Wilson Witzel, que andava se estranhando com o presidente, no início da pandemia, e com quem rompeu relações.

Há seis dias, na terça-feira, dia 21 de julho, Bolsonaro anunciou à imprensa que havia feito mais um exame para verificar se ainda estava positivo para o coronavírus. Caso não estivesse mais infectado, disse que viajaria para o Piauí, na sexta-feira, dia 24 de julho. Não deu. O exame continuou a dar positivo e ele teve de mudar os seus planos.

Em termos. Aqui vale uma breve retrospectiva. A grande mágoa de Bolsonaro foi a avalanche de votos que o Nordeste brasileiro deu ao PT nas eleições de 2018. Em alguns estados o candidato Fernando Haddad quase “gabaritou”. Va daí que parece ter virado ponto de honra para ele, ganhar a simpatia do povo da região, a quem já chamou, numa fala carregada de preconceito, de “paraíbas”. 

Em um reduto onde o povo viu a vida dar um salto de qualidade nos governos petistas, ficou difícil levar votos com promessas vãs, sem falar a língua local. Traduzindo: o olho no olho, de que tanto fala o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um “local”.

A visita foi cancelada no dia 7 de julho. Bolsonaro apresentava sinais de gripe, febre e a confirmação do adiamento da visita foi feita pelo senador Elmano Férrer, (do Podemos). “Recebi há pouco a ligação do Ministro do Desenvolvimento Social, Rogério Marinho, informando sobre o cancelamento da visita do Presidente Jair Bolsonaro ao Piauí. Uma nova data deverá ser agendada em breve”, declarou.

A agendada ficou prevista para depois de um novo exame. No dia 21, ele anunciava, para apoiadores, na porta do Palácio da Alvorada:  “Fiz exame agora. Amanhã cedo sai o resultado. Se Deus quiser, vai dar negativo e eu volto à normalidade. Aí, próxima viagem, vou sexta-feira (dia 24) ao Piauí”. Adiantou, ali, para a imprensa, que iria inaugurar uma escola militarizada com o seu nome e uma avenida batizada com o nome do general João Baptista Figueiredo (último dos presidentes da ditadura, que governou o Brasil de 1979 a 1985). Nos dois atos, a previsão era a de que ele fosse ciceroneado por um antigo aliado: o ex-governador do Piauí (1994-2001) e atual prefeito de Parnaíba Francisco de Moraes Souza, o Mão Santa (SD).

 A visita não saiu, mas os preparativos, sim. Sem fazer juízo de valor, inocentar ou culpar ninguém, mas tanto na situação do governador do Rio, quanto na do governador do Piauí, a PF andou ligeira e fez questão de fazer tudo acompanhada da mídia, com ares de Big Brother. O governador Wellington Dias, e sua mulher, Rejane Dias, foram acusados de estarem desviando a verba do transporte escolar, pago pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).

Em ano de eleições municipais, quando o peso de cada capital já desenhará o cenário para 2022, mandar a PF na frente, “malhar” a reputação de um governador do PT, no melhor estilo Lava-Jato, e viajar logo depois para o local, é preparar terreno para colher na fonte a ira da população indignada. E lá estará ele, como um salvador da pátria, acenando com o Fundeb, costurado e aprovado pela oposição no Congresso, como se fosse iniciativa sua, como ele tem feito, sem cerimônia, ou corar.

O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), reagiu à operação contra ele e a primeira-dama do estado, deflagrada pela Polícia Federal nesta segunda-feira (27). Na opinião de Dias, “muitos espetáculos ainda virão”. 

E completou: “Ainda bem que temos a lei de abuso de autoridade e estamos tratando com advogados sobre isto”. Segundo o governador, “fica mais ridícula e desnecessária por que estamos falando de um fato de 2013”. Quando Dias nem era governo.

Escrito por:

Jornalista. Passou pelos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora-pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" e "Imaculada", membro do Jornalistas pela Democracia

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