Benjamin Netanyahu e as crianças e mulheres abrigadas em hospital em Gaza (Foto: Reuters/Ammar Awad | Reprodução)

Israel, Milei e o desencanto do mundo atual

16 de novembro de 2023, 19:02

Os alemães são prodigiosos em cunhar palavras para explicar sentimentos de difícil interpretação. Uma dessas palavras é “weltschmerz”, que em português seria algo como: a depressão que você sente quando o mundo não é aquele que você acreditava ser. Acho que é exatamente essa tristeza profunda que se abateu em muitos de nós, seres que merecem a denominação de humanos.

Como é possível aceitar que 100 anos após o surgimento do nazismo em 1920, cá estamos nós enfrentando ideologias de ódio, segregação, perseguição, execução e ações deliberadas de extermínio de um povo.

O ato terrorista do Hamas, em 7 de outubro, desencadeou uma reação desmedida do estado de Israel.

Benjamin Netanyahu, com o apoio de Joe Biden, patrocina um verdadeiro genocídio, um elenco nefasto de crimes de guerra que dia sim e dia também invadem os celulares e nos devastam. Até agora os atos terroristas vitimaram 1400 pessoas em Israel e cerca de 12 mil palestinos. Números que certamente não refletem a realidade, que deve ser ainda mais tenebrosa. Jovens, crianças e idosos que tiveram suas vidas interrompidas por uma crueldade sem fim. Através da fome, sede, de doenças, falta de remédios, de médicos nos hospitais, por blindados, misseis, metralhadoras, fuzis e bombas.

A Faixa de Gaza e seu povo estão literalmente sendo varridos da face da Terra. Algo parecido com o que Hitler fez com os judeus, durante a segunda guerra mundial.

Em pleno século 21, quando todos acreditavam num mundo melhor e mais humano, com o avanço da ciência e da tecnologia, ocorre exatamente o contrário. Isso se deve não apenas à crise profunda do império Estadunidense e do próprio capitalismo, mas também à falência política das democracias burguesas que retiram direitos trabalhistas, reduzem salários e aprofundam a desigualdade, a pobreza, em nome da acumulação da riqueza. A extrema-direita se apoderou das novas tecnologias, utilizando toda sorte de métodos de manipulação, incitando o medo de um inimigo imaginário o ódio. Tiveram sucesso na captura de corações e mentes.

Cumprindo a máxima de que um abismo chama o outro, quando achamos que seria impossível algo pior do que as mais de setecentas mil mortes por Covid no Brasil, fomos surpreendidos com os tanques israelenses invadindo o maior hospital de Gaza, o Al-Shifa. Todos sabemos que a única guerra admissível em uma unidade de saúde é que se trava contra as doenças. Como lembrou o Subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários: “Hospitais não são campos de batalha” E quando isso ocorre, só resta o lamento de pessoas como o diretor dos hospitais em Gaza, Mohammed Zaqout, que num desabafo disse que a situação no hospital Al-Shifa era aterradora: “As forças de ocupação invadiram os edifícios (…) Não podemos fazer mais nada pelos doentes, a não ser rezar”.

O resultado desse crime de guerra tão “importante” para Israel foi a descoberta pífia de alguns poucos coletes com o nome do Hamas e uma sacola pequena com uma arma e munição. Mesmo assim, mereceu a escalada de destaque no JN, em detrimento dos bebês palestinos que ficaram sem incubadoras.

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Mas nossa depressão não fica restrita à Faixa de Gaza. Na América do Sul, nos deparamos com a ideologia nazista ocupando espaços importantes na política de vários países. A mais preocupante delas, para nós sul-americanos, e que são motivo de preocupação de pacifistas como o presidente Lula e o Papa Francisco, é a possibilidade de os argentinos elegerem no domingo (19/11) o ultra direitista, Javier Milei. Como seu replicante brasileiro, Jair Bolsonaro, Milei tem como plataforma de governo a destruição dos pilares da democracia. A candidata à vice-presidente na chapa dele, a deputada Victoria Villarruel, disse hoje que a Argentina só sairá da crise com ‘uma tirania’. Algo bem parecido com a proposta de Bolsonaro, que teve seu auge na tentativa golpista de golpe 8 de janeiro, em Brasília e também a aprovação pelo governo de Netanyahu de uma lei que tirou da Suprema Corte de Israel o direito de anular decisões do governo que considere “pouco razoáveis”. Ou seja, a extrema-direita se movimenta e não mais se constrange em dizer abertamente ao que veio. O pior: encontra lugar nas mentes e corações de muitos. Encerro esse texto utilizando uma palavra francesa utilizada para desejar sorte, antes das cortinas do teatro se abrirem: “merde’’ para todos nós.

Escrito por:

Jornalista com passagem pelas principais redações do país: Folha de São Paulo, JT, TV Globo, TV Manchete, TV Cultura, TV Gazeta, TV Brasil, TVE/RIO, Rede Minas, Rádio Eldorado, Rádio Tupi, Rádio Nova FM, Rádio Musical e colaborador do El País Brasil e Brasil 247

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