(Foto: Stuckert | ABr | Reprodução)

Lula é a única certeza cercada de dúvidas da direita por todos os lados

25 de novembro de 2021, 20:53

A direita e a extrema direita brasileiras se misturam, tentam buscar novas e velhas semelhanças e convergências e olham para Lula e pensam: dois anos atrás, esse cara estava saindo do cárcere político como uma incógnita maior do que as expectativas que criava.

Pois dois anos depois, Lula é a única certeza da política brasileira em relação ao futuro mais imediato. Não há entre nenhum dos seus adversários, incluindo os que o perseguiram e o encarceraram, nenhuma certeza.

Bolsonaro não tem certezas, nem a Globo, nem Sergio Moro, muito menos os militares. As incertezas e as inseguranças tiraram Luciano Huck do jogo, afastaram agora Luiz Henrique Mandetta e podem ir devorando outros pretendentes a alguma coisa em 2022.

A direita da era Bolsonaro virou um sumidouro de projetos e esperanças de ricos e da classe média que não conseguem resolver seus dilemas desde o golpe de 2016.

Estão em dúvida os tucanos enrolados nas prévias de João Doria e Eduardo Leite, em dúvida tão profunda que poucos sabem no PSDB, fora Aécio Neves, qual deles tem mesmo chance de tirar Bolsonaro de um segundo turno.

As poucas certezas da direita e da extrema direita vão ficando gastas antigas e todas são contra seus interesses. O Bolsonaro fraco e acovardado perdeu o direito de blefar com o golpe. É uma certeza.

É certo também que o sujeito não consegue mais nem meter medo com as ameaças de que pretendia esculhambar com as eleições. Bolsonaro está desligado.

Sergio Moro caminha na direção da mesma via retórica de Bolsonaro, apenas com a diferença da voz em falsete um pouco mais encorpada, e se avoluma a certeza de que Ciro Gomes já não tem certeza nenhuma.

O centro imaginário, direita e extrema direita irão, a partir da escolha do candidato do PSDB, acelerar o processo de autofagia. E as dúvidas serão apenas atualizadas e aprofundadas.

Teremos a intensificação dos ataques dos bolsonaristas a Moro, mas Moro parece não ter ainda estrutura de guerrilha para contra-atacar o bolsonarismo. A capacidade de combate pesado de Moro é uma dúvida.

Mesmo assim, como as pesquisas irão apontar crescimento do ex-juiz, teremos Moro cada vez mais protegido pela Globo, mas ainda sem nenhuma garantia de que será ele o escolhido pelos irmãos Marinho.

Direita e extrema direita foram tomadas pela melancolia da mediocridade. Bolsonaro, já sem repertório de ataque, frustra a todos, principalmente seus apoiadores, agredindo Emmanuel Macron.

O eleitor básico de Bolsonaro não sabe quem é Macron e nem ficou sabendo e nem deseja saber o que Lula foi fazer em Paris. Ele só quer de volta o Bolsonaro de antes da cartinha a Alexandre de Moraes.

É um fim de ano ruim para Bolsonaro e para direita e extrema direita fora do bolsonarismo. Todos tentam pegar o vácuo, logo atrás do genocida, mas ainda sem condições de fazer ultrapassagens.

Os adversários de Lula não podem ser subestimados, mas são hoje figuras frágeis com um plano em comum, o único plano possível: comer um ao outro, para que o sobrevivente enfrente Lula. É a única certeza relevante que eles têm.

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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