Nada está tão ruim que não possa piorar

11 de julho de 2020, 19:33

É isso.  Quando você acha que não existe mais lugar no mundo para certos pensamentos e certas pessoas vem o governo Bolsonaro e te desmente. Coloca, por exemplo para ser ministro da educação um pastor a favor da violência educacional para crianças e do feminicídio como uma manifestação da paixão. Ele defende também apagar correndo essas postagens agora que virou ministro do governo e que, provavelmente, será saudado pelo stablishment que não só faz vista grossa como também confia na nomeação.

Quando você acha que não tem mais lugar no mundo para quem apoia a destruição do meio- ambiente, as queimadas, o desmatamento, o descaso com as populações indígenas vem um ministro do governo Bolsonaro e te desmente. Lá está o Salles, altivo e confiante passando a boiada enquanto até os empresários do setor pedem a sua cabeça. Mas a cabeça resiste . 

Quando pensávamos que não haveria mais espaço para devaneios nazistas na nossa cultura vem o secretário da cultura e faz um discurso que prega o ódio e o nacionalismo extremado nas artes para um bem maior e superior. A atriz que o substituiu só aumentou nosso espanto ao acharmos que não haveria mais espaço para tamanhas sandices e cegueiras em relação à nossa cultura. Ambos caíram por força da pressão e por incapacidade de se manterem de pé. 

Aí, achamos que depois do Weintraub e suas vociferações antidemocráticas não haveria mais espaço para pessoas totalmente avessas à democracia. Ledo engano. Veio um ministro vaidoso e cheio de falsidades para provar o contrário. Ainda existe espaço para surpresas.

Achamos que não havia mais possibilidade de lidar com a pandemia planetária do jeito que o Brasil vinha lidando e, pasmem, havia sim. Estamos flutuando nesse mar de mortes e ignorância alimentados por um presidente que finge estar contaminado para poder vender seu remédio preferido e com isso nos espantamos mais um pouco enquanto passamos dos 70 mil mortos. Esse número muda na mesma perplexidade em que não percebemos que essas mortes podem aumentar. Somos surpreendidos a cada dia com novidades antigas que achávamos superadas e enterradas. 

Quem seria capaz de ressuscitar o AI-5, a ditadura, a tortura, o tratamento segregacionista com índios, negros , mulheres, LGBTS e pobres? Difícil de acreditar mas fácil de responder. O governo Bolsonaro, esse pacote de surpresas diárias que nos lança a pergunta que não quer calar. Onde estavam essas pessoas todos nos anos passados? Onde estavam esses eleitores que continuam a achar que esta é a melhor solução? Onde estávamos nós que deixamos isso acontecer e não paramos para pensar qual o caminho político capaz de evitar tamanha monstruosidade.

Mas, quando achávamos que não havia mais saída eis que pode haver. Vamos parar para pensar nos absurdos que permitimos acontecer e porque eles aconteceram.

Não dá mais para viver esperando o próximo absurdo acontecer.

Escrito por:

Cartunista, diretor de arte e ilustrador além de jornalista, comentarista e autor de teatro, cinema e televisão.

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