General Fernando Azevedo e Silva (Foto: Marcos Corrêa/PR)

Não atirem no general Azevedo e Silva

21 de dezembro de 2021, 10:34

É fácil ficar de longe dizendo que os civis não precisam da ajuda de militares legalistas como protetores e avalistas da democracia.

É fácil, é cômodo, é bacana, porque passa uma valentia que o vasto mundo civil não tem. Se tivesse, Bolsonaro não estaria mais no poder.

Por isso, são bem bobinhos os argumentos contra a escolha do general Fernando Azevedo e Silva para o cargo de diretor-geral do Tribunal Superior Eleitoral.

Repete-se na imprensa a conversa de que democracias estáveis não precisam de generais em cargos que deveriam ser ocupados por civis.

Democracias estáveis não precisariam de um marechal Teixeira Lott para assegurar a posse de Juscelino e Jango em 1955.

Democracias estáveis não teriam derrubado Jango e Dilma e encarcerado Lula. E muito menos gerado uma aberração política e humana como Bolsonaro, ou uma operação justiceira como a Lava-Jato.

Democracias estáveis já teriam enfrentado as decisões do general Augusto Heleno em favor dos garimpeiros da Amazônia.

Jornalistas da grande imprensa tem publicado textos nessa linha do estranhamento. Eles acham que o Brasil está apenas fora de prumo com Bolsonaro, mas que é uma democracia sob normalidade.

Sabe-se que, no caso de Azevedo e Silva, o general foi convocado pelos ministros Edson Fachin e Alexandre de Moraes, os próximos presidentes do TSE.

Os dois sabem muito bem, melhor do que todos nós que olhamos de fora, o peso dos coturnos no entorno do poder.

Num país sob normalidade o general não teria muito o que fazer. No Brasil, há muito tempo, militares legalistas devem contribuir para a democracia.

Azevedo e Silva passa a ser uma trincheira contra os ataques preparados por Bolsonaro e sua turma com e sem farda.

Os ingênuos perguntam: por que um militar? Porque Azevedo e Silva conhece as entranhas da política e convive com os que estão fora dos quartéis para fazer política. Ele seria o contraponto do TSE aos militares golpistas de Bolsonaro.

A presença do general cria pelo menos constrangimentos. É o caco de vidro no muro do TSE. Conhece todos os militares que podem representar eventuais ameaças às instituições.

Dizer que ele já agiu, como ministro da Defesa, como defensor do bolsonarismo, é um exagero. O general teve presença protocolar no governo e foi ao seu limite, até pedir para sair, em março, e levar junto os chefes das três armas.

Será o servidor fardado (mesmo que na reserva) para repelir ataques de ex-colegas de governo e de fora do governo ao TSE, às urnas e à apuração.

Ainda não está desprezada a hipótese de Bolsonaro tentar contar com os militares para esculhambar com as eleições.

Azevedo e Silva não é um Teixeira Lott, está longe de ter a mesma potência política. Mas é o que temos para o momento.

Deve ter seu desprendimento reconhecido, principalmente pelo risco que se dispôs a correr ao ser esculachado pelos que brincam de casinha como habitantes de uma democracia estável.

O general sabe que poucas coisas são mais instáveis hoje do que o jornalismo da grande imprensa.

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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