O ministro da Economia, Paulo Guedes, faz palestra na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ) (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil) Apoie o 247 ICL

Paulo Guedes fala em “caminho da miséria”, quando o único que conhece é o da miséria humana

15 de setembro de 2022, 19:03

O ministro Paulo Guedes, palestrando para empresários, disse que Lula é “o capeta” e vai jogar o país no caminho da miséria. Estranho as falas desse ministro, que já declarou que filho de porteiro não pode frequentar universidades, e tampouco empregadas domésticas passear na Disney. Com que autoridade moral ele fala de miséria, quando o governo que ele defende já registra 33 milhões de pessoas com fome e cerca de 101 milhões com carência alimentar?

Ele por acaso tomou conhecimento do estudo da ONU que apontou que o Brasil, sob o governo que ele defende voltou aos índices de IDH, anteriores a 2014? Foi como se os programas sociais tivessem sido paralisados por oito anos.  

O que ele pensa do corte de 60% dos recursos da farmácia popular? Foi com o seu consentimento que o orçamento projetado para 2023 foi elaborado. Foi a sua equipe técnica que pensou nesta maldade.  

Os que o aplaudem, no final da fala, sabem que ao sair de casa vão ter que saltitar por barracas improvisadas com famílias inteiras vivendo ao relento?

Danem-se, é o que devem pensar ao vê-los esparramados pelo chão feito “batatinhas”, até o dia em que tiverem o vidro do carro quebrado por algum garoto em desespero, para adquirir comida e puser um caco de vidro no seu pescoço. É este o caminho da miséria, alguém deveria avisá-lo.  

E, provavelmente, o sistema vai mandar esse menino para um “abrigo” de recuperação de menores, onde ele vai somar à sua fome a revolta pelo ambiente fétido que encontrará. Quem duvida, assista ao documentário “Juízo”, de Maria Augusta Ramos, onde a cineasta mostra uma juíza coberta de joias, julgando o caso de meninos infratores, com o distanciamento de quem compra uma caixa de lenços de papel numa farmácia.

O caminho da miséria, alguém precisa dizer para o ministro, é perder pai e mãe numa pandemia, porque a equipe econômica do governo a que ele pertence, priorizou a economia, em detrimento das vidas enterradas em valas comuns, enquanto a sua equipe fazia contas de quanto podia ou não podia gastar com vacinas.  

Foram 685 mil mortos aproximadamente, mas e daí? Nem ele nem o seu presidente eram coveiros… Deram uma pequena “aloprada”, apenas, enquanto procuravam pelos arquivos algum cadastro de “pobres” para direcionar um auxílio aprovado no grito, pela oposição, no Congresso, enquanto ele, Paulo Guedes, tentava reduzir de R$ 600,00 para R$ 400,00, a parcela a ser paga com muito atraso, porque ele e a sua equipe não sabiam onde os pobres estavam. Nunca tinham se preocupado com eles…

O caminho da miséria é curto, ministro. E foi traçado pelo governo a que o senhor serve. Fica entre a Faria Lima e a cracolândia. Dê uma voltinha por lá. Talvez o senhor tenha que pegar um mapa, para não se perder pelo caminho, pois na certa nunca tirou o traseiro da cadeira do seu gabinete, para percorrer o trajeto feito todos os dias pelo padre Júlio Lancelotti. Peça para ele o guiar ou o acompanhe na entrega de quentinhas aos miseráveis que o senhor teima em não ver, mas estão expostos nas ruas de São Paulo, cidade que o senhor costuma frequentar quando quer comer bem e bajular empresários.  

Sim! O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conhece o caminho da miséria. Teve de percorrê-lo para chegar até a presidência, posto que o permitiu tirar 36 milhões de pessoas do mapa da fome a que o senhor as fez retornar. Isto jamais o envergonhou. Fez do percurso lição de vida. Transformou a experiência em programa de governo. Quanto ao senhor, o único caminho da miséria que conhece, é o da miséria humana.  

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Escrito por:

Jornalista. Passou pelos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora-pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" e "Imaculada", membro do Jornalistas pela Democracia

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