Militância e bandeira do PT (Foto: PAULO PINTO)

Só direita e extrema direita se renovam

14 de janeiro de 2022, 19:45

A eleição deste ano promete aprofundar um fenômeno nem tão recente. Direita e extrema direita tiram novos candidatos como coelhos da cartola, e as esquerdas sofrem para ter o mínimo de renovação.

Até Fabrício Queiroz, chefe das rachadinhas dos Bolsonaros, é pré-candidato a alguma coisa que ele irá escolher mais adiante, talvez a deputado federal pelo Rio. Pode se consagrar e ganhar imunidade.

É uma realidade dramática. Nas eleições majoritárias e nas proporcionais, direita e extrema direita apresentam caras novas em profusão, até de milicianos, em todos os Estados.

A lista é interminável e variada. Dizem que Eduardo Pazuello pode ser candidato. Tem Moro, tem Dallagnol. Tem Weintraub. Anunciam que Augusto Heleno está estudando uma candidatura.

Braga Netto poderia ser o vice de Bolsonaro. Luciano Huck quase foi candidato a presidente. Tem muita gente que depôs na CPI como testemunha ou investigado que estaria na fila.

A direita deprecia, humilha e pisoteia a democracia, mas é dela que saem as tentativas de renovação de nomes que vão alcançar alguma representação, com mandato parlamentar.

A explicação mais singela informa que a direita avança por causa de Bolsonaro, do inchaço das direitas e porque o seu mundo tem a funcionalidade pragmática de dezenas de partidos abertos a qualquer negócio.

Na esquerda, a saída do funil é mais apertada. Vale a antiguidade, o lugar de fala e até o curral. O esforço de Lula para ter uma bancada forte na Câmara depende sempre mais dos veteranos que estão na luta ou podem retornar do que dos novos que poderiam entrar.

O novo nome, com impacto nacional, surgido nos últimos dias como pré-candidato a deputado foi o de José de Abreu, mas que já desistiu. Era a aposta na celebridade com potência nas redes sociais.

Desapareceram ou se fragilizaram os espaços de renovação das esquerdas. A resignação com as frustrações recentes e outras explicações recorrentes esvaziaram o movimento estudantil, a UNE e os centros acadêmicos.

Os sindicatos foram sabotados pela reformas trabalhistas e pelo próprio envelhecimento. Os partidos não são mais redutos acolhedores de caras novas.

Fenômenos das redes sociais, com vocação política, têm mais vínculos com a direita, por convicção ou alienação, com as exceções de sempre.

A prosperidade da extrema direita em 2018, que não se repetiu em 2020, atiça as caras novas. O reacionarismo aposta na fidelidade dos nichos, para chegar, a partir dessas trincheiras, ao centro e alargar alcances.

Direita e extrema direita asseguraram a renovação de 47% na Câmara em 2018. Um dado consagrado e muito repetido, porque vale como alerta revelador dessa realidade, é este: o PT foi o partido que mais reelegeu deputados.

A bancada do PT caiu de 88 parlamentares em 2010 para 69 em 2014 e para 56 em 2022. Desses 56 deputados, 15 se elegeram pela primeira vez.

Tem gente que prefere esconder esses números, considerando-se também os outros partidos que podem ser considerados de esquerda.

Os dados indicam uma trajetória de perda de cadeiras e de não-renovação a ser melhor estudada, compreendida e enfrentada. E isso pode ser exaustivo para alguns.

É preguiçoso dizer que a avalanche bolsonarista explica a renovação recente pela direita e pela extrema direita, principalmente nos pequenos partidos. Essa explicação é de 2018 e não ajuda a entender a não-renovação pela esquerda.
Por que nomes e agrupamentos resistem à militância com o engajamento mais ou menos orgânico aos partidos? Por desencantos variados e porque não aceitam a convivência com práticas do século 20.

A avaliação da incapacidade de renovação das esquerdas passa pelas insuficiências das estruturas institucionais, pela relação relapsa com jovens, movimentos sociais e periferias e pelo assombro com o poder dos neopentecostais.

Como percepção geral, as esquerdas envelheceram no Brasil e merecem ser melhor examinadas até pela ciência política. Que também pode estar cansada diante do que não consegue decifrar.

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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