Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução)

Tudo como antes no quartel de Abrantes

5 de janeiro de 2022, 19:44

Na manhã da primeira quarta-feira de 2022, e com os intestinos finalmente desentupidos (o cérebro continua igual: qualquer tentativa de desentupimento seria inútil), Jair Messias teve alta no hospital luxuoso em que estava hospedado em São Paulo desde a madrugada da segunda-feira.

Como não poderia deixar de ser, tanto ele como o médico que veio do Caribe para acudi-lo mencionaram a famosa facada de 2018 como tendo alguma relação com a nova obstrução intestinal.

Foi mais um lampejo indicando que o tema fará parte da campanha eleitoral deste ano. Ou, melhor dizendo, como será reforçado, já que o senhor mandatário está em campanha eleitoral permanente desde o primeiro dia de 2019, quando depositou o traseiro na poltrona presidencial.

Havia várias curiosidades sobre a razão que, além da tal facada, poderia ter causado o entupimento intestinal e que, convenientemente, nem Jair Messias nem seu médico favorito tinham mencionado até agora.  

Outros, porém, haviam lembrado: como já foi dito aqui no 247 em reportagem precisa de Joaquim de Carvalho, antes mesmo da tão mencionada punhalada Jair Messias havia sofrido várias internações e recebido atendimento graças a crises intestinais.

Ora, qualquer ser razoavelmente lúcido sabe que pessoas que costumam ter crises intestinais devem cuidar da alimentação. As que foram apunhaladas no abdome, então, muito mais.

Acontece que Jair Messias não apenas jamais teve ideia do que é lucidez como insiste em provar que macho que é macho come de tudo. E dá-lhe pastel gorduroso, dá-lhe qualquer coisa.

Bem, deu no que deu: outro entupimento. Agora, segundo o doutor que veio de longe, por causa de um camarão mal mastigado.

Assim, ficou provado por um médico amigo que nem mastigar o presidente consegue fazer direito. Nem isso.

Enquanto alguns prestavam atenção e outros se distraíam durante o entupimento intestinal de Jair Messias, é preciso reconhecer que no país tudo continuou e continua igual, avançando graças à concentração de esforços do governo do pior e mais abjeto presidente da história da República.

Ficamos sabendo que as artes e a cultura continuarão a sofrer amputações, que o diretor do Arquivo Nacional exonerou funcionárias de vasta experiência e comprovada eficiência na defesa da nossa memória, que a FUNAI impede vigilância e proteção de reservas indígenas à espera de ser homologadas, que o patético e criminoso sabujo que ocupa o ministério da Saúde continuou a boicotar, o quanto conseguiu, a vacinação de crianças entre cinco e onze aos, e muito mais.

Resumindo: ficamos sabendo que o único e verdadeiro projeto de Jair Messias e seu bando foi avançando: destruir o país até não deixar pó sobre pedra, que dirá pedra sobre pedra.

Ah, sim, também houve momentos de humor. Um deles: o ex-ministro de Aberrações Exteriores, Ernesto Araújo, disse que até o Centrão sofre forte influência da China e do “narcossocialismo”.  

Superou, em termos de grotesco e ridículo, o que outra besta-fera, Ricardo Salles, ex- ministro de Meio Ambiente, havia conseguido, ao dizer que Sergio Moro, o juiz manipulador, era comunista.  

Reitero aqui o que afirmei em texto anterior: esperei sinceramente a pronta e plena recuperação do entupido Jair Messias. Agora estou tranquilo.

Essa tranquilidade vem de uma certeza: a menos que ocorra algum imprevisto de alta gravidade, ele estará apto para se candidatar, ser varrido das urnas, perder a imunidade e, com ela, a impunidade, e ser levado aos tribunais para depois seguir para a cadeia.

Onde, espero, ele tenha vida longa. Muito longa.

Escrito por:

Eric Nepomuceno é jornalista e escritor

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