Um almirante bem trapalhão
Poucas vezes uma personagem ilustrou com tanta precisão a decadência moral de uma instituição como Bento Albuquerque tem feito, em relação às Forças Armadas. Almirante-de-esquadra da reserva, portanto, oficial general de quatro estrelas da Marinha de Guerra do Brasil, Albuquerque, então ministro das Minas e Energia, era a ponta de lança do esquema de mulas que trouxe joias contrabandeadas – e sabe-se lá mais o quê – da Arábia Saudita, por ordem de Jair Bolsonaro.
Desde que o caso veio à tona, o almirante já produziu cinco versões e meia dúzia de relatos, todos inverossímeis, cujas vertentes tentaram neutralizar um ato de origem. Ao ser abordado na alfândega do aeroporto de Guarulhos, em meio a uma atrapalhada tentativa de carteirada, Albuquerque revelou, conforme gravação do circuito de segurança da Receita Federal, que as joias apreendidas com um assessor eram para ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Desde então, em modo apavorado, o almirante tem buscado formatar novas versões sobre o caso, para desgosto da caserna e desespero do lacrimoso chefe, auto exilado em um condado próximo a Orlando, no Reino Mágico da Disney.
Agora, na Polícia Federal, Bento Albuquerque tartamudeou um corolário de falas ininteligíveis para tentar emplacar uma tese risível, a de que ele teria ficado surpreso ao saber que o conteúdo da caixa trazida pelo assessor era de joias, e não de areia ungida pelo pastor local da Assembleia de Deus.
Assim, estupefato, revelou à PF, desta feita, ter deduzido, dado o brilho e a elegância das joias sauditas, que tão nobre regalo só poderia ter como destinatária a Imelda Marcos da Ceilândia.
Enfim, o escárnio.